Os símbolos, que os cristãos tão devotamente utilizam na Páscoa, têm origem em festivais pagãos.

De génese ambígua para alguns, uma questão dogmática para muitos. A Páscoa encerra em si uma panóplia de questões por responder. Até hoje, permanecem inúmeras dúvidas e incertezas quanto à celebração pascal. Mais questões se levantam ainda no que toca às simbologias utilizadas, de proveniência claramente pagã. Uma festa de tradição cristã, mas que reconhece oficialmente símbolos marcadamente pagãos.

Por cá, país marcadamente cristão, a Páscoa não passa inócua. Um pouco por todo o país se oferecem ovos coloridos e coelhos gigantes de chocolate. Símbolos que poucos questionam, simplesmente aceitam. Talvez o que não seja do conhecimento de muitos, é que estes símbolos, que os cristãos tão devotamente utilizam na Páscoa, têm origem em festivais pagãos.

A Páscoa que se comemora hoje tem muito pouco dos preceitos bíblicos que estão na origem da celebração. Poucos aliás são os rituais verdadeiramente provenientes da Bíblia. A verdade é que a Páscoa que conhecemos é estranha aos cânones bíblicos – hoje em dia, a celebração cristã usa os costumes das religiões politeístas.

O paganismo está sobretudo patente nas origens de dois símbolos, hoje reconhecidos pela Igreja como símbolos pascais: o ovo e o coelho. Os ovos têm por excelência origens pagãs: são emblemas da imortalidade, encontrados nos sepulcros pré-históricos da Rússia e da Suécia.

Para os egípcios, o deus Re nasceu de um ovo; para os hindus, Brahma surgiu de um ovo de ouro – Hiranyagarbha – e que depois, com a casca, fez o Universo. Para os chineses, P’an Ku, nasceu de um ovo cósmico. O ovo era, na realidade, considerado por diversos pagãos, como a génese da vida humana. No século XVIII, a Igreja Católica adoptou oficialmente o ovo como símbolo da Páscoa, santificando um costume originalmente pagão.

Já o coelho (ou a lebre), também um símbolo da Páscoa, é um “animal impuro”. Contudo, a Bíblia repugna esse animal (Deuteronômio 14:7; Levítico 11:6), o que levanta ainda mais reservas quanto à aceitação deste símbolo pascal.

Alguns povos da Antiguidade consideravam o coelho como o símbolo da Lua; é possível que ele se tenha tornado símbolo pascal devido ao facto da Lua determinar a data da Páscoa. Seja como for, como pode um animal considerado impuro pelo Bíblia ser simultaneamente um dos símbolos mais proeminentes da festa mais importante da Igreja católica?

Fica assente apenas uma verdade que parece universal: a Páscoa como uma festa ecuménica, na qual se comemora fenómeno da vida.

Agostinha Garcês de Almeida