“Não digo com a mesma intensidade e presença, mas é necessário que as equipas de apoio psicológico permaneçam nestas zonas de catástrofe a realizar um processo de ‘follow up'”. É esta a opinião de Sónia Couto, psicóloga do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), que considera que a comunidade internacional se deve preocupar mais com a continuação do apoio psicológico às populações vítimas de catástrofe, como foi o recente sismo que afectou a Indonésia.

A especialista considera que “as equipas de apoio psicológico e as de socorro médico são igualmente importantes, mas em níveis diferentes”. O socorro médico está em primeira linha, mas logo de imediato é necessário intervir com as pessoas que foram expostas à catástrofe. “Os estudos demonstram que quanto mais rapidamente estas vitimas são apoiadas, melhor é o prognóstico”, afirma a psicóloga.

O sismo de magnitude 8,7 na escala de Richter teve o seu epicentro ao largo da ilha indonésia de Sumatra e fez pelo menos 620 mortos confirmados pela ONU. As autoridades locais estimam que o número total de vítimas mortais possa ascender às duas mil.

“Lua de mel” dá lugar à desilusão da desmobilização dos meios

Em termos de resposta à catástrofe, há uma fase denominada “lua de mel” em que tudo é mobilizado para o local da catástrofe: comunicação social, figuras públicas, meios de socorro e ajuda humanitária. No entanto, depois sucede-se uma “fase de desilusão” pela desmobilização dos meios de apoio. “Esta fase é mais difícil precisamente por esta ausência, pelo que há um confronto da realidade. A população afectada fica mais isolada e solitária”, afirma Sónia Couto.

A fase de reorganização dependerá dos recursos que o país afectado tem e das estruturas psicológicas, sociais e económicas existentes. Países sub-desenvolvidos têm mais dificuldades em reorganizar-se.

A Indonésia tinha sido atingida pelo recente tsunami, pelo que tinha um equilíbrio psicossocial precário. Por isso, “terá dificuldades no restabelecimento do equilíbrio psicológico da sua população”, explica a especialista.

Tsunami após o natal, Sismo depois da Páscoa

A coincidência de tanto uma como outra catástrofe terem ocorrido após celebrações religiosas tem efeitos na crença das populações. “Há um aumento na crença do castigo, da punição da Humanidade e do fim do mundo – punição pelos pecados e por todos os atentados que tem sido realizados pelo ser humano em todo o mundo”, afirma a psicóloga do INEM. A população afectada passa a acreditar que a partir de agora nada será igual e ficam muito mais vulneráveis a este tipo de situações. Isto contribui para o desenvolvimento de distúrbios psicológicos.

A Indonésia voltou a viver, agora de uma forma mais intensa, outra catástrofe. O equilíbrio psicológico da população já tinha sido afectado e alterado. “É uma tendência natural do ser humano procurar equilíbrio e segurança. Agora é necessário ajudar a restaurar esse equilíbrio e continuar com as equipas de apoio psicológico em campo”, afirma a psicóloga.

Pedro Sales Dias