A UEFA decidiu castigar Mourinho, mas não chegou a extremos. Responsáveis da arbitragem portuguesa já previam este desfecho.

Foi conhecida ontem a decisão do Comité de Controlo e Disciplina da UEFA, na sequência da investigação sobre os incidentes relacionados com o jogo entre Chelsea e Barcelona, na primeira-mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. José Mourinho foi suspenso por dois jogos e o Chelsea terá de pagar uma multa de cerca de cinquenta mil euros. O adjunto Steve Clarke o chefe de segurança Les Miles foram repreendidos.

Mourinho, os seus colaboradores e o Chelsea eram acusados de falsas declarações e de trazer descrédito ao jogo, por causa das acusações sobre um encontro do árbitro Anders Frisk com o treinador Frank Rijkaard no intervalo da partida. Dias mais tarde, Frisk acabou por anunciar o final da carreira, na sequência de ameaças a si e à sua família por parte de adeptos ingleses.

Volker Roth, presidente da Comissão de Arbitragem da UEFA, considerou que a greve «era um meio possível e legal», mas a verdade é que ainda não foi desta que se chegou a extremos.

APAF já esperava esta decisão

O presidente da direcção da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), Vítor Reis, considera que as declarações de Volker Roth foram mal interpretadas pelos jornalistas, até porque uma greve europeia “é uma medida extrema e difícil de se concretizar, dado que não existe uma Associação Europeia de Árbitros”.

No entanto, Vítor Reis sempre acreditou que José Mourinho ia ser punido pelo seu comportamento, visto que foi acusado de mentir e essa é uma situação “muito mal vista pelos órgãos do futebol europeu”. O presidente da APAF critica a atitude do treinador português porque, segundo Vítor Reis, está provado sociologicamente que os treinadores de futebol têm um forte efeito sobre as massas: “Mourinho devia, portanto, ter mais cuidado com as coisas que diz, pois tem uma grande responsabilidade”. Por tudo isto, a sanção a José Mourinho já era esperada: “É um aviso muito claro de que há certo tipo de comportamentos que não vão ser tolerados”.

Duarte Gomes compreende Frisk, mas não responsabiliza Mourinho

O árbitro internacional português Duarte Gomes desconhece os verdadeiros motivos que levaram Anders Frisk a abandonar o futebol, mas, na sua opinião, os comentários de José Mourinho “não terão sido a razão principal”, mas antes as ameaças à família de Frisk.

O árbitro português considera, contudo, que as palavras do treinador do Chelsea poderão ter sido “a gota de água num copo que estaria prestes a transbordar”. Duarte Gomes está solidário com Frisk, pois, como explica, “a arbitragem é muito importante para nós, mas é apenas uma parte da nossa vida e nunca se poderá sobrepor à família”.

Quando confrontado sobre a possibilidade de tomar uma atitude semelhante, o árbitro de Lisboa não hesita e afirma que faria tudo o que fosse possível para preservar o bem-estar daqueles que gosta: “O futebol não deveria ser uma guerra, mas muitas vezes é isso que acontece. Se ameaçassem a minha família, é óbvio que o futebol passava de imediato para segundo plano”.

Diana Fontes