Se nada for feito entretanto, a temperatura em Portugal “subirá até cerca de 0,47º C na próxima década e 4,5º C até 2100”, alerta o meteorologista Filipe Duarte Santos, que relembra que nos últimos trimestres os valores da precipitação foram muito abaixo da média: “Bateram-se recordes na precipitação”. Duarte Santos e a geógrafa Ana Monteiro discutiram ontem, terça-feira, no auditório da reitoria da Universidade do Porto, as causas, efeitos e possíveis soluções para este problema que, nos últimos tempos, tem afectado a Península Ibérica. Os especialistas defenderam que é preciso ter uma atitude optimista e racional.

De facto, Duarte Santos lembrou que “a seca arrasa também o sul de Espanha”, não sendo um problema exclusivo de Portugal. Apesar de tudo, parece não afectar toda a população de forma efectiva, mas apenas os meios rurais que vêem, inevitavelmente, a agricultura e a pecuária (para muitos a sua única forma de subsistência) perecer. “É hipocrisia dizer que os cidadãos urbanos estão preocupados com a seca”, refere Ana Monteiro.

A grande dependência da nossa sociedade relativamente aos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) influencia, em larga medida, a alteração das condições climáticas devido à sua combustão e consequente libertação e concentração de CO2 na atmosfera. “Estamos a alterar a composição da atmosfera”, lembra Duarte Santos. O protocolo de Quioto, subscrito por Portugal, exige o controlo da intensidade de CO2 libertada na atmosfera, bem como a introdução de energias renováveis, poupança de energia e adopção de sistemas energéticos mais desenvolvidos.

“Não estamos numa situação de impotência”

Apesar de tudo, os especialistas recusam partir para uma análise catastrófica do fenómeno, afirmando mesmo que é possível inverter o processo de gradual subida das temperaturas e de variabilidade da precipitação. “Não estamos numa situação de impotência face a estas questões; cada um de nós pode ter uma acção no sentido de termos um mundo mais sustentado ao nível climático”, afirma Duarte Santos.

“Todos nós somos responsáveis pela resolução do problema através do uso de lâmpadas de baixo consumo, utilização de transportes públicos sempre que possível, etc. – pequenas coisas que multiplicadas por 6 mil milhões de pessoas terão algum efeito”, refere. Por seu lado, Ana Monteiro afirma que “ninguém está disposto a fazer sacrifícios se deles não retirar benefícios”, sendo por isso necessário “fazer ver às pessoas que a mudança dos seus hábitos trará benefícios”.

Apesar de reconhecer que o abastecimento de água poderá estar em risco, devido à variabilidade do nível de precipitação em Portugal, e que a situação é dramática, Ana Monteiro acredita que “não se pode falar em catástrofe” e relembra que “no noroeste português não há seca.”

Daniel Brandão
Foto: AP