De duas em duas semanas, os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) organizam visitas aos subterrâneos do Porto. O JPN juntou-se a um grupo de visitantes. Como combinado, reúnimo-nos no Jardim da Arca D´Água, quando ainda faltavam alguns minutos para as dez da manhã. Ouvidas as instruções do guia, calçadas as galochas e colocados os capacetes na cabeça, estamos prontos para começar a viagem.

A partir do momento em que se descem as primeiras escadas, regredimos no tempo, até ao período em que estes túneis, cuja construção foi iniciada em 1597, abasteciam de água as fontes e chafarizes da cidade do Porto. Na altura, os mananciais mais abundantes eram os de Paranhos, Salgueiros, Campo Grande, Camões, Póvoa de Cima, Cavaca, Fontaínhas, Virtudes, Aguardente e Malmeajudas.

O grupo está animado e ansioso. Acendem-se as lanternas para se penetrar num percurso escuro e estreito, que só terminará quase três quilómetros mais à frente, com algumas subidas à superfície pelo meio. A ideia de caminhar por baixo da agitação da cidade e das ruas por onde tantas vezes passamos durante o dia encanta os visitantes.

Ao longo desta obra de engenharia notável, toda ela construída à mão, podemos observar várias nascentes de água que, apesar de já não ser usada para consumo doméstico, serve ainda para efeitos de rega em algumas situações. Além disso, há ainda vários hotéis e instituições do Porto que se servem desta água para lavagens, por exemplo. A manutenção dos túneis cabe aos SMAS.

Entretanto, vamos sendo informados da nossa localização por pequenas placas colocadas nas paredes graníticas dos túneis: Rua 9 de Abril, Rua de Serpa Pinto, Rua dos Burgães… A seguir, a saída é obrigatória. É hora de um curto período de descanso.

“Isto é quase como um rally-paper”

Durante este pequeno interregno, o JPN procurou saber como estavam os ânimos do grupo. Haveria desistências? A verdade é que o percurso exige algum esforço físico e atenção a algumas “armadilhas” que vão surgindo. Para isso vale o guia, o senhor Pachecoque acompanha o grupo e que, para além de dar força moral, vai alertando para os obstáculos com que nos vamos deparar mais à frente. Para fazer esta viagem, diz, “é preciso ter um bocadinho de energia. É preciso uma pessoa ser muito fria e não ter receio de nada”. Mesmo assim, para os elementos deste grupo, a hipótese de desistir nem sequer se coloca. A vontade de continuar e de chegar ao fim supera o cansaço e qualquer tipo de receio. “Ultrapassamos as dificuldadades todas sem problemas. É tipo um ‘rallypaper’. Estou pronta. Vamos lá!”, afirma uma das visitantes.

A viagem prossegue, e novamente debaixo de terra, continuamos o nosso percurso: atravessámos a Rua da Boavista, Rua de Álvares Cabral, Rua dos Bragas e Praça Coronel Pacheco. E eis que, quase três horas depois chegámos à última “estação”: a Rua das Oliveiras. É altura de entregar galochas e capacetes, depois da sempre importante fotografia de grupo, claro está. O grupo está mais cansado e sujo do que quando entrou, mas a satisfação é evidente nos rostos de cada um.

Termina assim uma viagem por um pequeno troço da história do Porto: a parte subterrânea da cidade que tão importante foi em tempos para a sobrevivência da população da cidade, actualmente oculta aos olhos da maioria dos portuenses.

Anabela Couto