Calcula-se que a colecção de desenhos, pinturas, esculturas e gravuras do museu da Faculdade de Belas-Artes do Porto ande à volta dos seis mil exemplares. No entanto, há dois que, ao longo dos tempos, se foram tornando mais conhecidos. E não foi apenas por estarem supostamente ligados a dois nomes sonantes da arte renascentista.

O verdadeiro da Vinci

De facto, o desenho de Leonardo da Vinci presente na colecção do museu da FBAUP nem sempre lhe foi atribuído. Até aos anos sessenta, não havia a certeza de que o desenho pertencesse mesmo ao autor da Gioconda. A sua autoria era mesmo atribuída a um autor muito menos conhecido. Segundo Lúcia Matos, directora do museu, “nem se sabe bem como foi lá parar” a gravura. Eduardo Batarda, pintor e professor na faculdade de Belas-Artes, diz-nos que o referido desenho “fez parte de colecções prestigiadas”. Desconhece-se, no entanto, a sua origem. Durante algum tempo, discutiu-se a autoria da obra, mas os estudiosos “baseavam-se no olho e na memória”, o que fazia com que os enganos fossem frequentes. Foi um especialista do British Museum, Philip Pouncey, quem acabou por decifrar o mistério, mostrando, sem sombra de dúvida, que aquele desenho era mesmo de Leonardo da Vinci.

O falso Miguel Ângelo

O outro caso mediático passou-se com um desenho que algumas pessoas quiseram atribuir a Miguel Ângelo. Segundo Eduardo Batarda, a obra vinha assinada por um “Michelle Ângelo”, numa grafia diferente daquele em que se escreve o nome do pintor em italiano, “Michelangelo”. Apesar disso, o boato persistia e o nome de Miguel Ângelo como autor do desenho chegou mesmo a constar de folhetos referentes a exposições da FBAUP.

Após anos de estudos intensos, Eduardo Batarda pôde finalmente, já em finais da década de noventa, comprovar que a autoria da gravura não pertencia realmente a Miguel Ângelo. Segundo Lúcia Matos, “qualquer uma das pessoas com um mínimo de conhecimentos olhava para o desenho e dizia que não era da autoria do pintor italiano”. No entanto, durante muitos anos, procurou-se alimentar esse mito. Eduardo Batarda põe a hipótese de se ter tentado fazer passar a ideia de que “se estava sentado em cima de uma fortuna”.

O professor da FBAUP refere como possível causa para as confusões associadas às duas gravuras referidas, o facto de ser “relativamente fácil falsificar os carimbos que registam o percurso dos desenhos”. As obras podem ser vistas no catálogo “Desenhos de Mestres em colecções portuguesas”, que pode ser consultado na biblioteca da Faculdade de Belas-Artes.

Carlos Luís Ramalhão