A grande aposta da Universidade do Porto é o investimento na inovação e na investigação. Estão reunidas as condições para responder a este desafio?

Estão. As unidades de investigação da universidade têm obtido classificações muito boas pelas comissões internacionais de investigação. Temos boas condições na área cientifíca para responder a esse desafio. Naturalmente, é preciso fomentar a cooperação. Estamos neste momento a procurar desenvolver as relações entre as universidades que nos são mais próximas, e que nos podem ajudar a progredir nesta área. Está previsto um encontro entre a UP e as universidades de Aveiro, Minho e Coimbra para que se encontrem meios de cooperação mais fortes. Mas para já é apenas um troca de ideias, onde se vai fazer uma primeira discussão entre as quatro universidades e só depois se verá como é que este programa será estendido. Mas nós necessitamos de aumentar a nossa massa crítica. A UP é a maior universidade portuguesa o número de investigadores não é proporcional. E há ainda outra coisa: temos que seleccionar sectores de intervenção.

Que sectores podem trazer vantagens competitivas para a universidade?

Temos que apostar em áreas que tenham futuro. As tecnologias da informação e comunicação já passaram. Neste momento são já uma ferramenta utilizada nos mais diversos campos e aí não vale a pena uma grande aposta. A área da saúde é a que aparece em primeiro lugar, pelas potencialidades que a UP já tem e porque é uma área que tem uma grande margem de desenvolvimento. A segunda área onde se está a apostar é a área das nanociências e das nanotecnologias. É um sector de futuro e vamos procurar desenvolver projectos nestas novas ciências. Naturalmente que para as empresas ligadas a estas áreas, temos que pensar em pessoas novas para as desenvolver. Isto tem que começar na universidade e depois fazer com que os jovens, depois de licenciados, abram empresas deste sector e contribuam para o desenvolvimento da região. A terceira aposta é numa área mais abrangente que é a das ciências cognitivas. Passa pela filosofia, psicologia, e vai até à inteligência artificial e à saúde. Estamos também a pensar na área de energia e da área ligada ao ambiente, embora deva dizer que aqui ainda estamos um pouco atrasados no processo de coordenação de esforços.

As universidades são acusadas de serem pequenos feudos de professores que trabalham em regime muito fechado, que só vivem para dar aulas. A investigação é feita, mas muitas vezes não é divulgada e serve apenas para se obter um grau académico. Não se criam mais-valias, nem para a universidade, nem para a região. O que é que pode ser feito para quebrar este ciclo?

Isso acontece frequentemente e é preciso criar condições para que os resultados das investigações sejam divulgados às empresas. É uma preocupação nossa e existe algum esforço nesse sentido. O UPIN (Universidade do Porto Inovação) está a procurar valorizar e dar a conhecer os resultados da investigação. Nós estamos neste momento no processo de criação de uma empresa voltada para a inovação, que vai fazer a ponte entre a universidade e o sector empresarial. Mas é realmente difícil quebrar esse ciclo interno. É preciso também incutir o espírito de risco e criar uma cultura de abertura que possa começar a alterar essa tendência.

Anabela Couto
Miguel Conde Coutinho