Portugal conseguiu reduzir em nove anos a percentagem de fumadores de 36 para 17%. Uma redução que não impede 12 mil mortes por ano e o aumento do consumo pelas raparigas. “A nossa preocupação não é o sexo masculino, mas os [indíviduos] do sexo feminino que, ao contrário das expectativas, fumam cada vez mais”, referiu o presidente do Conselho de Prevenção do Tabagismo, Pais Clemente, ontem, segunda-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, onde foi apresentada a nova campanha europeia “Help – por uma vida sem tabaco”.

O director do curso de Sociologia da Universidade do Minho, Carlos Veloso da Veiga, avança com uma explicação para esta subida do número de fumadoras: “Durante muito tempo as mulheres estiveram afastadas destas formas simbólicas de afirmação social. Sempre foi um vício tipicamente masculino. Na nossa sociedade as mulheres eram marginalizadas quanto ao consumo de tabaco”.

Estudos recentes apontam para o facto das mulheres cada vez mais se aproximarem da taxa de fumadores masculinos. “Julgo que as mulheres estão cada vez mais a assumir o seu papel de autonomia relativamente à forma como devem desfrutar dos seus próprios prazeres”, refere o sociólogo, que acrescenta ainda que “é uma forma de demonstrar o seu domínio sobre certos símbolos sociais de autonomia e poder sociais”.

Mulheres começam a fumar mais tarde

Uma das conclusões expressas ontem na Fundação Calouste Gulbenkian é de que as mulheres começam a fumar mais tarde. Carlos Veloso da Veiga diz que o desenvolvimento social é diferente nos dois sexos. “Os rapazes entram mais rapidamente nos grupos que levam ao consumo do tabaco. As mulheres não efectuam este processo tão rapidamente e quando despertam para o vício já estão em idade mais adulta”.

O especialista indica ainda outra razão: “O controle parental sobre a vida dos jovens rapazes é menos apertado do que o das raparigas. A pressão feita sobre as jovens é maior. Uma menina não deve fumar. Isto relaciona-se com os protótipos existentes na sociedade. Os rapazes têm mais liberdade para frequentar os lugares onde nascem estes vícios: os bares e as discotecas”.

As mulheres fumam mais esporadicamente

Apesar de tudo, as mulheres fumam mais esporadicamente. “As mulheres têm um maior controle sobre o uso de substâncias viciantes, como é a nicotina. Considero que as mulheres apesar de fumadoras têm uma maior consciência devido ao seu instinto maternal. Têm uma maior maturidade social no sentido de saber o momento em que devem deixar de fumar e têm maiores defesas sociais e noção dos efeitos do tabaco nelas próprias”, menciona o sociólogo.

Publicidade e leis mais agressivas contra o tabagismo

Carlos Veloso Da Veiga tem dúvidas sobre a publicidade que acompanha os maços de tabaco. “Considero que [a publicidade] causa alguma perturbação psicológica, mas o problema é que existem maneiras de a eliminar. As pessoas compram caixas de vários tipos parar ultrapassar o problema”.

O docente da Universidade do Minho considera que existe, por vezes, um certo fundamentalismo em relação a estes tipos de leis proibitivas. “Poderá não ser a melhor solução. Mas julgo que a proibição de fumar em discotecas e bares será um bom começo. O vício encontra-se muito associado ao consumo de café e álcool”, explica.

O objectivo da comissão europeia é prevenir o tabagismo entre as camadas populacionais mais jovens. A campanha europeia arrancou no dia 5 de Fevereiro, em Bruxelas, com a instalação de um cubo gigante que chegou ontem a Portugal e parte dia 16 para uma das 25 capitais da União Europeia.

“O tabagismo é um hábito milenar. Está muito difundido pela sociedade mundial. Deve-se tentar limitar os efeitos nas gerações actuais, mas agir sobretudo nas gerações vindouras. Há sempre o risco de quando se substitui um vício, aparecer outro”, afirma o sociólogo.

Pedro Sales Dias