A abertura de uma nova rota da Ryanair que ligará, a partir de Outubro, o Porto a Frankfurt foi ontem, terça-feira, apresentada na Faculdade de Economia do Porto (FEP) por Michael Cawley, “chief operating officer” (COO) da empresa. Um encontro em que o fenónemo das companhias de baixo custo foi o tema central e por onde perpassaram questões como a explosão destas companhias aéreas e o próprio futuro deste modelo. Também presente esteve Kenneth Button, professor na George Mason University e director do “Journal of Air Transport Management”.

Foi em Janeiro passado que a Ryanair começou a operar a partir do aeroporto de Francisco Sá Carneiro com duas ligações diárias para Londres. Para além de Frankfurt, estão previstas novas ligações a partir do Porto, como Roma, Barcelona, Bruxelas ou Paris. Um encontro visto como fundamental para o sector turístico, como diz Michael Cawley: “As pessoas vêm cá não porque querem visitar o Porto, mas porque a Ryanair oferece a viagem por 4,99 euros”.

A criação de um novo conceito

Criada em 1985 pela família Ryan, a Ryanair foi a primeira companhia aérea de baixo custo europeia, importando para o velho continente um conceito criado nos anos setenta nos Estados Unidos. Uma importação que só foi possível com a liberalização do espaço aéreo nos anos oitenta em grande parte dos países europeus, um conceito inaugurado na primeira rota da Ryanair, Londres-Dublin.

O sucesso deste modelo de redução de custos é visível: num espaço de vinte anos, a empresa conquistou 34 milhões de passageiros, bem longe dos 5 mil que em 1985 viajaram na companhia irlandesa. “Num negócio temos que ter fundamentalmente lucro e só depois virão as preocupações em cumprir um serviço”, explica o COO da Ryanair.

A pose de Michael Cawley durante a conferência estará algures entre a arrogância de um vencedor e o realismo de alguém que mudou o mercado da aviação civil e que tem vindo a democratizar o próprio avião.

Na realidade, o sucesso das companhias de baixo custo trouxe consigo problemas graves de sustentação para as companhias tradicionais. As companhias aéreas de baixo custo optaram por uma pequena margem de lucro e gastos reduzidos. De facto, os preços baixos praticados por estas companhias devem-se a uma maior densidade de assentos nos aviões e, para além disso,e pelo facto de não terem escritórios, porque as reservas são quase integralmente feitas pela Internet, nem oferecerem refeições a bordo. “A diferença entre nós e as companhias tradicionais é um pedaço de comida de plástico”, ironiza o dirigente da Ryanair

“Haverá sempre gente estúpida a investir em ‘airlines’”

Ironia das ironias, Kenneth Button lança para o debate uma definição muito pessoal de donos de companhias aéreas: “As pessoas que investem em companhias aéreas parecem ser as mesmas que vão a Las Vegas jogar, podem ganhar no início, mas se continuarem a jogar acabarão por perder”. Um jogo que, nas palavras do professor universitário, terá já um público definido, “Haverá sempre gente estúpida a investir em companhias aéreas”.
Isto porque, na opinião do universitário, “quem ganha neste negócio são aqueles que vendem serviços às companhias e quem contrói os aviões”, diz.

Traçar cenários futuros neste sector é, na verdade, uma tarefa difícil, num universo tão volátil como o da aviação civil, sempre dependente do preço do petróleo e do próprio equilíbrio geopolítico. Se é verdade que a próxima aposta das companhias aéreas de baixo custo poderá ser a realização de vôos transcontinentais, como aponta a moderadora da conferência na Faculdade de Economia, Cristina Barbot, Kenneth Button lança dúvidas quanto ao modelo de contenção de custos típico das “low cost” quando aplicado a viagens de longo curso que exigem mais serviços de apoio.

Mariana Teixeira Santos