Mas afinal o que vemos nós na televisão? O investigador Dinis Manuel Alves acredita que, “em média, um terço da actualidade é requentada”. O antigo jornalista e actual professor de Fotojornalismo do Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração de Aveiro (ISCIA), é o autor da tese intitulada “Mimetismos e determinação da agenda noticiosa televisiva – a agenda-montra de outras agendas”.

A tese revela os resultados de milhares de notícias analisadas provenientes dos diferentes “mass media”: 3.659 notícias televisivas, 2.344 noticiários de rádio e jornais diários, semanários e revistas correspondentes às 3 semanas escolhidas, repartidas por Janeiro, Junho e Dezembro de 1999.

Manuel Alves passou por órgãos de informação como TSF, TVI, Tal & Qual, Expresso enquanto jornalista, o que facilitou uma nova análise “in loco” dos “mass media” e dos “gatekeepers” portugueses, com especial destaque para os que contribuem para a agenda noticiosa televisiva.

Dinis Manuel Alves explicou ao JPN o que, segundo ele, é mais “escandaloso” na televisão actual: “já não se fazem reuniões de redacção”, não se decide o que é ou deixa de ser notícia porque isso é trabalho maioritário da rádio e da imprensa, “as agendas-alavanca que realimentam constantemente a TV”. Por esta razão, o investigador conclui que “nas televisões de Portugal há jornalismo de animação e não de investigação”.

A imediaticidade da televisão na cobertura dos acontecimentos não passa de um “mito de senso-comum”, diz Dinis Manuel Alves. O meio de televisão só passa o que outros media já passaram, o telespectador pode não se dar conta deste fenómeno porque “as mesmas coisas” são noticiadas de uma forma divertida, emocionante e apelativa. O telejornal assemelha-se cada vez mais a uma novela, em que a cada notícia há um “não perca já a seguir” que prega os olhos de milhares de portugueses ao ecrã.

Dinis Manuel Alves alerta para os condicionalismos da “máquina que é a televisão”: “o material é muito caro e não se pode fazer como na imprensa em que um telefonema chega para fazer a notícia”. O investigador acrescenta que a concentração dos média tende a transformar os jornalistas em “dois em um e três em um” porque vários órgãos de comunicação pertencem aos mesmo dono e a filosofia das empresas passa cada vez mais pela rentabilização de recurso humanos e materiais.

“A culpa não é só dos media, é também de quem os vê”

Dinis Manuel Alves não acredita que, num futuro próximo, os comportamentos de quem “comanda” os “mass media” se alterem. Essa alteração tem de partir do lado de quem vê, com base numa educação para os média que ajude a escolher os conteúdos e a “desligar, porque são as pessoas que têm o dedo para desligar e mudar o canal de televisão”. O professor de Fotojornalismo não vê em que medida a nova geração de jornalistas saída dos cursos de Comunicação Social pode melhorar a maneira de fazer jornalismo se “as aulas de Deontologia são esquecidas para fazer coisas que há uns anos atrás não se faziam”.

Bruna Pereira