Qual a melhor forma de um partido político atrair o voto de um eleitor? Como elaborar a mensagem ideal? É para responder a estas e outras questões que, até ao próximo sábado, estão reunidos no Porto alguns dos maiores especialistas europeus na área da Consultoria Política.

Trata-se do encontro anual da Associação Europeia de Consultores Políticos que, desde 1996, já passou por algumas das mais importantes cidades europeias. Este ano é a vez da cidade do Porto. De acordo com Ana Fernandes, organizadora do evento, “um dos objectivos de realizar esta conferência em Portugal é abrir o espaço de debate a outros Estados-membros e conseguir conquistar no nosso país mais membros para a associação”.

Sepp Hartinger, responsável pelo programa deste ciclo de conferências, diz que “o objectivo destes encontros é descobrir a cultura e a identidade europeia na consultoria política”, e defende que “se os partidos políticos europeus querem ter uma boa campnha política não podem continuar a olhar para os EUA, importando continuamente os conceitos americanos. Temos que ser mais ambiciosos e encontrar-nos a nós próprios”.

A receita para combater a abstenção

Como explicar que, numa Europa em que a democracia é o sistema político maioritário, os valores da abstenção sejam tão elevados? Sepp Hartinger considera que “que isso tem a ver com a importância das eleições. Se as pessoas sentirem que as eleições são muito importantes, então o mais provável é irem votar. Mas se sentirem que não têm nada a dizer, e que o voto delas não interessa, então não sentem a necessidade de participar nessa eleição”.

Mehmet Ural, presidente da Associação Europeia de Consultores Políticos, fala em “crise da democracia”: “este é um problema do desenvolvimento da democracia. As democracias estão a transformar-se de representativas para democracias pluralistas ou para sociedades civis baseadas em organizações não governamentais”.

Este professor na Universidade de Istambul afirma que “há determinados assuntos que são difíceis de comunicar”, como as discussões em torno do aborto e da Europa. As pessoas estão mais preocupadas em ter trabalho e melhorar a sua situação económica” e considera que “a Constituição Europeia ou o aborto são questões muito sofisticadas para as pessoas”. O resultado é o voto personalizado: “os eleitores votam mais nas pessoas. Pensam: ‘este tipo é bom e pode fazer qualquer coisa por mim’”.

No futuro, a aposta deverá passar por uma mensagem mais próxima dos cidadãos. Sepp Hartinger lembra que “nos anos sessenta, em que os ‘mass media’, como a televisão e a Internet, ainda não tinham a força que têm hoje, os políticos comunicavam de forma mais directa com as pessoas”. E, para este austríaco, o segredo deverá passar por aí: “Temos que voltar a esses tempos. Os políticos têm que voltar a estar próximos dos votantes. E tem que haver uma comunicação mais directa. Não é suficiente dar as mensagens aos ‘mass media’. É importante o diálogo, a troca de ideias entre os cidadãos e os políticos”.

Anabela Couto