“Cada vez mais me dou conta de que o material de que trato se torna autónomo, independente da minha vontade”, diz Lobo Antunes ao “El País”. A entrevista, publicada hoje no maior jornal generalista espanhol, vem a propósito do lançamento da sua última obra, “Hei-de amar uma pedra” ontem, terça-feira, em Espanha.

O escritor explica que o processo criativo que utiliza para escrever passa por deixar a história avançar independentemente da sua vontade. “O meu livro é um delírio estruturado. Um livro não se faz com ideias e desconfio daqueles que dizem que têm uma boa ideia para um livro”, diz Lobo Antunes. Ao invés, para o escritor português escrever é “como se o que contasse fossem visões”.

“O eterno candidato ao Nobel”

Em entrevista ao diário espanhol, Lobo Antunes refere ainda que não pretende repetir as fórmulas que já utilizou no passado, mas lançar-se na escrita de um novo livro com uma abordagem completamente diferente: “É necessário começar cada livro novo com a sensação de que não vais ser capaz de terminá-lo”, explica o autor a quem a imprensa espanhola apelida de “o eterno candidato ao Nobel”.

Para Lobo Antunes apenas existe boa e má literatura, revelando que a sua escrita não está intimamente ligada às raízes lusas: “Não me sinto dentro da tradição portuguesa nem de nenhuma outra, o que me permite apropriar-me de todas; e talvez porque me mandaram à guerra, não sofro nenhum tipo de patriotismo”, frisa o autor.

“Hei-de amar uma pedra” (2004) é a 17ª obra de António Lobo Antunes em 25 anos de carreira. Muitas das suas obras foram já traduzidas em inúmeras línguas, entre as quais se contam a checa, a dinamarquesa, a francesa, a inglesa, e mesmo a israelita e a húngara, entre outras.

Daniel Brandão
Foto: El País