Que balanço faz de quase cinco anos de funcionamento do curso?

Apesar de estar apenas há um ano como director da licenciatura, a verdade é que assisti ao nascimento desta licenciatura como presidente da Faculdade de Letras. A criação de uma licenciatura é um processo longo, mas parece-me que o resultado final, uma vez que saíram os primeiros licenciados em 2004, é francamente positivo.
Por um lado, a qualidade que os nossos alunos revelaram no mercado de trabalho, as suas aptidões, mostra que tiveram uma boa formação, e, por outro, a inovação que este curso traz relativamente aos outros cursos similares existentes nas universidades portuguesas. Para além da componente teórica, que é fundamental, há uma componente prática imprimida a este curso e uma componente tecnológica que são uma mais-valia para os nossos licenciados. Em termos globais, é um curso diferente do que se faz no resto das universidades portuguesas.

Há contudo “dores de crescimento”. Que limitações destaca?

É evidente que o curso também tem muitas limitações. As instalações, apesar de este ano já termos dado um salto muito significativo em termos de qualidade de áreas disponíveis com a passagem para este novo edifício [Parcauto], ainda não são as instalações ideais.

Ainda temos várias deficiências, coisas até muito graves, como a biblioteca, que infelizmente ainda não está a funcionar e que é básica em qualquer instituição de ensino. Não há um ritmo normal de aquisição de novas obras. Os professores ainda não se habituaram a dar indicações de livros de uma forma constante para se ir adquirindo esse tipo de materiais que são fundamentais para uma licenciatura.

Temos os novos estúdios de televisão e rádio que seriam para estar funcionar, um aqui [Parcauto] e outro no edifício ao lado e ainda não estão a funcionar.

Depois existe o facto desta área de ensino e investigação não ter uma revista, uma publicação periódica que permitisse, para além de publicitar os trabalhos de investigação produzidos pelo corpo docente e também por outros investigadores fora até da nossa universidade, conseguir o intercâmbio com outras [revistas] similares que iriam enriquecer a nossa biblioteca. Também ainda não foi dado esse passo.

Há alunos que se queixam da impreparação de alguns professores.

O corpo docente é reduzido. Tem excelentes professores, mas tem esta dificuldade: o número de docentes que normalmente permanece aqui é $muito reduzido, porque a maioria deles tem como profissão principal ser funcionário da RTP ou da Lusa ou de outro jornal. Esta menor disponibilidade de alguns professores também afecta depois a própria licenciatura. Em relação à qualificação académica, só temos dois doutores. Temos alguns mestres, mas só temos dois doutores o que é francamente pouco em termos de qualificação académica. Apesar de haver poucos professores com uma qualificação de mestre ou de doutor, há muitos assistentes convidados que têm muita qualidade, apesar de tudo. São coisas que demoram muito tempo.

Ainda em relação ao balanço da licenciatura: de alguma forma os primeiros alunos deste curso foram prejudicados por ser um curso tão recente e com muitas arestas a limar?

É evidente que conseguir uma massa cinzenta muito qualificada e condições de trabalho próximas do melhor possível é um processo que é muito lento. Os primeiros alunos começaram as aulas tarde por causa das instalações, não existiam os professores todos que não estavam ainda contratados… Mas isso é normal em qualquer coisa que está a arrancar. Isto não é uma máquina que carregamos num botão e pomos as coisas a funcionar, é muito complicado e depende de muitos factores. A começar pelo próprio financiamento para pôr isto tudo a funcionar.
Eventualmente os alunos que entraram este ano têm melhores condições de trabalho. No resultado final não me parece que se irá verificar uma grande diferença entre os que saíram primeiro e os que vão sair daqui a três ou quatro anos. No futuro, é evidente que a melhoria é gradual e lenta.

Texto e foto: Milene Câmara