A decisão foi adiantada ontem, terça-feira, por Martin Selmayr, porta-voz da comissária para a sociedade de informação e os média, Viviane Reding. O objectivo é colocar a União Europeia na linha da frente desta área.

A Televisão Digital Terrestre (TDT) traz muitas vantagens ao nível da qualidade do som e imagem, tendo espaço suficiente para novos canais de televisão. Além disso, requerendo apenas um terço do espectro frequencial, a TDT deixará espaço livre que poderá ser utilizado por serviços de telecomunicações móveis e novos serviços de radiodifusão.

No pelotão da frente da instalação da TDT estão a Finlândia e a Suécia, que terão a mudança concluída em 2008. Alemanha, Espanha, Itália, Malta apontam para 2010, enquanto a Bélgica, Grécia, Eslovénia, Eslováquia, Reino Unido e Hungria escolheram a data limite de 2012.

A Comissão acredita que, até 2010, grande parte dos telespectadores europeus já terão adquirido pelo menos um receptor digital. Com esta medida, Viviane Reding, citada pelo jornal “Público”, quer “dar um sinal político de que a TV Digital será em breve uma realidade. Quanto mais cedo completarmos o ‘switchover’ [o fim do sinal analógico], mais cedo os nossos cidadãos e a indústria beneficiarão”.

TDT em Portugal em “stand-by”

Em Portugal, a discussão sobre a implementação da TDT é antiga. Num primeiro concurso de atribuição da licença de estabelecimento e exploração da TDT em Portugal, a PTDP – Plataforma de Televisão Digital Terrestre – foi o consórcio vencedor, reunindo os contributos do Grupo SGC do empresário João Pereira Coutinho, a RTP e a SIC.

No entanto, o consórcio acabou por ver a sua licença revogada em Março de 2003. Como explica ao JPN, Ilda Matos, da ANACOM, “colocaram-se problemas com a distribuição do ‘software’ e das ‘set-top boxes’, o que levou a que a licença fosse revogada. Entretanto, foram feitos estudos para ver qual seria a apetência do público português pela televisão digital, para se poder criar modelos de negócio que suportassem a TDT. Todos esses dossiês foram entregues ao anterior governo. Portanto, espera-se que agora a decisão seja tomada pelo Governo, quer em relação ao concurso de novas licenças como ao modelo de exploração que será escolhido”.

Durante o concurso anterior, o horizonte da implementação do serviço e o “switch-off” do sistema analógico estava programado para ocorer em 2007. Segundo Ilda Matos, “era uma referência, já que as licenças das actuais estações terminavam nessa altura e pretendia-se fazer coincidir essa data com o arranque da televisão digital em Portugal.”

Agora que o prazo de implementação desta ”nova forma de ver televisão” foi dilatada para 2012, Ilda Matos alerta para os resultados obtidos nos estudos de mercado realizados pela AT Kearney. “No público português não havia uma apetência muito grande pela televisão digital. Aliás, as primeiras experiências de TDT na Europa também correram mal. Os modelos de negócio tiveram de ser revistos. Se a mudança fosse voluntária, a maioria da população não mudaria, teria de ser forçada a fazê-lo. O que levanta a questão de saber se deveremos optar por um modelo aberto, fechado, gratuito ou pago. Mas todas essas questões estão em aberto”, explica Ilda Matos.

O JPN entrou em contacto com o consórcio da PTDT, mas até ao momento não foi possível obter nenhuma reacção à decisão da Comissão Europeia.

Hugo Manuel Correia
Foto: DXFM