“Estamos nestas instalações há quase 30 anos. Há buracos no tecto, já tivemos um buraco mesmo à porta, chove no salão de alunos. É perigoso estarmos nestas condições. Pode haver um incêndio no verão”, afirma a presidente da Associação de Estudantes (AE) da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), Susana Guilherme.

As instalações da FCNAUP estão em péssimo estado e são demasiado pequenas para os cerca de 300 alunos do curso. O processo de projecção da construção deveria ter sido iniciado em 2002, mas Susana Guilherme explica que em 2004 consultou a página de Internet do Ministério das Finanças e “o investimento previsto no PIDAC não era suficiente para a construção das novas instalações. Em 2005 aconteceu a mesma coisa”. A estudante afirma que “a reitoria da UP considera que o projecto é prioritário e que não está esquecido”. No entanto, “parecem mais descansados que os alunos de nutrição”.

Por seu lado, o conselho directivo da faculdade admite que as condições são muito precárias e apresenta como razão do problema as mudanças dos sucessivos governos. “Acho que temos tido muitos azares com as mudanças de governo. De facto, temos uma verba inscrita no PIDDAC que é muito residual”, refere o vice-presidente da FCNAUP, Pedro Moreira.

Estudantes sentem-se injustiçados

“Somos todos estudantes, todos pagamos propinas e todos nós temos direito à qualidade de ensino que inclui boas instalações”, reage assim Susana Guilherme quando questionada pelo JPN sobre o facto de outras faculdades já terem instalações novas e nutrição continuar à espera.

A dirigente académica culpa os sucessivos governos pela actual situação. “Os investimentos vêm de cima. Os governos cortaram nos planos de investimento”, frisa. O vice-presidente do conselho directivo é da mesma opinião: “É uma culpa que tem o azar dos sucessivos ministros não terem conseguido cumprir os seus mandatos”.

“Temos de nos deslocar a outras faculdades”

O problema das instalações acarreta outro tipo de problemas. Os estudantes de nutrição têm de se deslocar a outras faculdades para terem aulas práticas, dado que os velhos pré-fabricados da FCNAUP não têm laboratórios. “Deslocamo-nos à Faculdade de Farmácia duas vezes por semana. Este ano a faculdade começou a pagar as deslocações, mas antes nem isso acontecia”, menciona a presidente da AE. Os alunos de nutrição também têm aulas na Escola de Biotecnologia da Universidade Católica, no Porto.

Pedro Moreira explica que as aulas noutras faculdades são um meio de resolução do problema da falta de espaço, mas salienta que “é desagradável. Prejudica o processo de ensino e aprendizagem”.

“Pagamos as mesmas propinas, mas estudamos em barracos”

Os estudantes de nutrição sentem-se revoltados. “Pagamos as mesmas propinas, mas estudamos em barracos. Devíamos todos pagar menos”, acusa Susana Guilherme. Os alunos fizeram um abaixo-assinado em 2002, altura em que entrou em vigor a nova lei de financiamento. “Não concordamos com o aumento brutal das propinas. O abaixo-assinado foi entregue ao conselho directivo, mas não teve qualquer resposta”, acusa a presidente da AE. Em jeito de metáfora com as instalações, existe mesmo um jornal da AE denominado “O Provisório”.

O vice-presidente da FCNAUP diz-se solidário com os estudantes, mas defende que “pagar menos que os outros é uma posição completamente impossível. Dentro da universidade, vejo com cepticismo a possibilidade da existência de cursos com preço diferente. Pode indicar que há cursos mais importantes do que outros”, sustenta.

Texto e foto: Pedro Sales Dias