No ano em que se assinalam dez anos passados sobre a introdução do jornalismo digital em Portugal, Rosental Calmon Alves, professor da Universidade do Texas, nos EUA, falou ao JPN do muito que ainda há por fazer ao nível do “webjornalismo”. O estudioso aponta a necessidade de o futuro passar pelo aproveitamento das potencialidades do novo meio.

Estamos ainda numa fase inicial do desenvolvimento do jornalismo digital?

Absolutamente. Dez anos de experiência ainda significam um período muito curto. Estamos ainda nos anos formativos deste novo género de jornalismo.

O que é que há ainda por descobrir no “webjornalismo”?

Quase tudo. Duas coisas fundamentais: a linguagem mais apropriada para usar neste meio e o modelo ou modelos de negócios que sejam suficientes para financiar uma operação de jornalismo de qualidade neste novo meio. No campo da linguagem, estamos ainda numa fase de transposição de estilos de outros meios para o jornalismo online. É normal. Isso aconteceu com a rádio, que no início era o jornal falado. Depois, a televisão era a rádio com imagem. E, aos poucos, cada um dos meios foi criando a sua própria linguagem. E isso é o que está a acontecer agora com o jornalismo online. E não é uma desculpa dos jornalistas: falta a infra-estrutura técnica também por parte dos usuários, falta a maturação de uma linguagem que seja mais efectiva.
O modelo [de negócios] baseado em publicidade ainda é muito tímido. Os anunciantes ainda não descobriram o potencial que a Internet oferece à publiciadade. A publicidade na Internet nos EUA aumentou cerca de 30%, enquanto que a publicidade, em geral, aumentou 7%. O que eu temo é que a publicidade na Internet ainda seja muito barata e que se tenha de esperar um ajuste de oferta e procura para colocar os preços e os valores numa situação que ajude a financiar o jornalismo de qualidade.

Há algum meio (som, vídeo ou texto) que seja predominante na Net?

Não é um ou outro, acho que são todos combinados que formam uma linguagem nova na Net. A Internet pode ser usada como um meio de distribuição dos meios antigos. Há rádios excelentes na Internet que não têm problemas de espaço, é uma infra-estrutura barata, etc.
Pode fazer-se o que a maioria está a fazer que é levar os jornais ou as revistas que já existem para a Internet. Mas o grande desafio não é esse. É muito mais agradável folhear uma revista do que lê-la no écrã de um computador. O grande desafio é ver a Internet como algo totalmente novo, não como um canal de distribuição dos “media” antigos. Muitos vão tentar continuar a fazer isso, mas acho que essas pessoas vão perder.

Letícia Amorim
Foto: Agostinha Garcês de Almeida