As paredes da cantina da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) estavam hoje, terça-feira, diferentes do habitual. Faixas pretas com palavras de ordem cobriam o edifício.
O objectivo das associações de estudantes que organizaram a acção de sensibilização de hoje foi dar “uma visão negra do ensino superior”, afirma o Presidente da Federação Académica do Porto (FAP). Pedro Esteves defende que “não podem ser mais uma vez os estudantes a pagar a factura que os últimos governos deixaram”.
A acção de sensibilização veio na sequência das medidas anunciadas para o ensino superior, nomeadamente no que diz respeito aos estudantes que seguem a via ensino.
Se a medida for posta em prática, a partir do próximo ano lectivo, os alunos que sigam a via ensino vão deixar de ter turmas atribuídas para fazerem os seus estágios. Como consequência, vão deixar de ser remunerados.
A acção de sensibilização foi organizada pela FAP, em colaboração com a Associação de Estudantes da FCUP, Faculdade de Letras do Porto (FLUP), Faculdade de Desporto e Educação Física (FCDEF) e Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.
Fraca adesão
Na FCUP, foram recolhidas assinaturas para um abaixo-assinado para ser entregue aos responsáveis políticos.
Até às 14h00, cerca de 270 estudantes tinham subscrito o texto. Os dirigentes associativos do Porto queixam-se do “timing” escolhido para a tomada das medidas por parte do Governo.
“O ‘timing’ para a tomada destas medidas é estratégico por parte do Governo. Nesta altura, é um bocado complicado. Estamos numa altura de exames e, por isso, a manifestação não contou com a participação que queríamos”, diz o presidente da Associação de Estudantes da FCUP. Ricardo Rodrigues afirma, no entanto, que “atendendo às circunstâncias”, a iniciativa foi de encontro às expectativas dos dirigentes associativos.
“Houve falta de informação”
“Eu soube da manifestação ontem, por uma amiga minha, senão nem sequer saberia. Acho que a manifestação foi marcada muito em cima, acho que houve falta de informação”, defende Raquel, aluna da FLUP, que pretende ser professora.
As estudantes Natália e Catarina mostraram-se indignadas com as medidas do Governo. “Eles estão a brincar connosco. Nós precisamos de ter um estágio, porque temos de aprender a ensinar. E não é observando que vamos aprender; é praticando”, defende Catarina, estudante da FLUP.
A juntar à contestação pela falta de atribuição de turmas está também o fim dos estágios remunerados. Os estudantes queixam-se de estarem a pagar para trabalhar. “Os estágios têm encargos como deslocações, alimentação… Agora querem que paguemos os estágios e as propinas. Estamos a pagar para trabalhar”, diz Catarina.
Além da participação dos estudantes, o abaixo-assinado contou ainda com a participação de funcionários e professores.
A FAP e as restantes associações estundantis prometem continuar a luta até que sejam ouvidos. Para Setembro, está agendada uma reunião nacional para se definirem acções de luta.