Educar para a inovação é uma tarefa árdua, a que a escola dos nossos dias não consegue dar uma resposta capaz. É uma ideia comum aos quatro especialistas na área da educação e da ciência que se sentaram à mesa esta segunda-feira para um debate sobre “Inovar na educação para educar inovadores”, na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto. Na conferência, foi abordada a perspectiva da educação sobre a “Cultura Científica e Inovação”, tema do ciclo de debates que comemora os 20 anos do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (INESC) do Porto.

Joaquim Azevedo, director do Instituto de Educação da Universidade Católica é peremptório: “O sistema educativo está atrasado três séculos. A escola que temos é ainda a do século XVIII”.

Para o doutorado em ciências da educação, o sistema educativo actual “é um lugar em que a mediocridade dá lugar à excelência e onde se promove a uniformidade” em detrimento do direito à diferença. “Não há liberdade para os professores criarem os seus métodos específicos”, observa. Azevedo define a escola como um reprodutor de “frases ocas sem sentido”.

“A escola não está só”

A responsabilidade de educar para a inovação não é exclusiva dos estabelecimentos de ensino. Outros agentes sociais, como a família, os grupos de amigos e os média, têm também um importante papel na formação dos jovens. “A escola não está só. Se queremos um ensino inovador temos que ser exigentes e a nossa sociedade não é exigente”, defende Joaquim Azevedo.

Sem detrimento da influência que a sociedade exerce sobre nós, Carlos Fiolhais, fundador do Centro Computacional da Universidade de Coimbra, sublinha, no entanto, o papel da escola na educação de inovadores. “Eu sou fruto da escola. A sociedade também é fruto da escola”, diz. Há, portanto, uma dupla relação, de dois sentidos, entre escola e sociedade. Ambos os meios, de acordo com os especialistas, não se encontram ajustados às necessidades de inovação.

Como inovar

A reestruturação dos currículos, a formação contínua dos docentes, um novo sistema de selecção de professores são algumas das soluções para o défice de inovação apontadas por Manuel Rangel, especialista em ciências da educação e professor do colégio Tangerina, no Porto.

Carlos Fiolhais subscreve estas medidas e defende o desaparecimento da disciplina de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), no secundário, que é, para o físico, “um tique do Governo”. “Não faz nenhum sentido uma disciplina, deste género, isolada de todas as outras”, afirma Carlos Fiolhais. Para o físico, o ideal seria integrar, de foma transversal, os conteúdos desta matéria, em todas as disciplinas do secundário.

Mais do que técnica, a questão da educação é política. Neste sentido, Joaquim Azevedo deixa um alerta: “Se queremos melhor, temos que fazer por isso. Nós, mas sobretudo o governo”.

O director do Instituto de Educação da Universidade Católica aponta algumas medidas que deveriam ser introduzidas e promovidas pelo Ministério da Educação em conjunto com a sociedade civil: incentivar os professores a dinamizarem as sua aulas; introduzir o sistema experimental no ensino; trazer os conhecimentos dos alunos adquiridos no meio familiar e lúdico para a escola; seleccionar os professores de acordo com as suas competências profissionais; e avaliar o sistema educativo de forma continuada e sistemática.

Esta foi a primeira conferência de um ciclo que decorre na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, a propósito do vigésimo aniversário do INESC Porto. A dimensão internacional e perspectiva económica e social da cultura científica e inovação vão ser discutidas, respectivamente, nos dias 20 e 27 de Junho.

Texto e foto: Salomé Pinto da Silva