As paixões têm destas coisas: da intensidade à loucura é um curto passo que se desenha. Para além do colorido nos estádios, das vozes erguidas, as claques e todo o ambiente à volta delas, criam, não raras vezes, um fanatismo quase primário.

A violência no futebol é um fenómeno complexo, onde se entrecruzam pessoas e política.

O líder dos Superdragões (SD), Fernando Madureira, não nega esta realidade. “A violência é normal. A maioria dos SD são jovens dos bairros que passam o dia a roubar e que depois transmitem essas coisas para a claque. Mas também temos que perceber o dia-a-dia deles, a forma como foram educados”, afirma.

Há quem negue a relação entre violência e futebol. “Não existe relação directa entre a violência e as claques. Juntar essas duas palavras é a forma mais fácil de justificar qualquer ocorrência, é a forma mais fácil dos média se justificarem, a forma das forças de segurança se auto-promoverem. É, portanto, a imagem fácil do português provinciano, básico e altamente preconceituoso”, contrapõe Bruno, dos No Name Boys (NN).

“A aglomeração das pessoas provoca estados de espírito completamente diferentes. A adrenalina ao máximo, a nossa força pessoal cresce e assim sobe também a força do grupo”, comenta João Guerreiro da Juventude Leonina (JL).

É a embriaguez das massas, a explosão de sentimentos, a angústia da derrota, a superioridade da vitória. É um aglomerado de sentimentos e também “um hábito de violência incorporado já no quotidiano e o anonimato que a claque proporciona leva ao desenvolvimento destas actividades criminosas”, explica o antropólogo Daniel Seabra.

Política e futebol

Daniel Seabra, partindo do seu trabalho de pesquisa nas claques portuenses, ressalva que “há de facto extrema-direita e extrema-esquerda nas claques, mas é uma percentagem muito reduzida”.

Exemplo dessa militância é a Curva Nord, claque da Lázio, ligada à extrema-direita. Pelas bancadas do Estádio Olímpico de Roma, a Curva Nord mostra a sua força e os seus ideias, com suásticas à mistura.

Apesar desta conotação, os SD não escondem a relação de proximidade que têm com a Curva Nord. “Todas as claques em Portugal seguem um pouco o exemplo italiano. Com a Lázio, se calhar por ser azul, gerou-se uma empatia”, recorda Fernando Madureira, líder dos SD. No entanto, “é uma relação de amizade e nada mais que isso, não há relação política”, ressalva.

Já Bruno dos NN declara que “nem extrema-esquerda, nem extrema-direita. Essa é mais uma vez a imagem, quase bucólica e gasta dos media”.

Estereótipos ou não, as imagens ficam na memória. Tal como ficaram as faixas onde os “SS” de “Sporting Sempre” e da própria polícia nazi de Hitler se elevavam na bancada da JL. O núcleo 1143 não esconde as suas tendências de extrema-direita.

No “Expresso” do dia 11 de Maio de 2002, um dos membros dos 1143 explica a lógica dos próprios “skins” dentro do futebol. “É impensável um ‘skin’ bater noutro ‘skin’ só por causa do futebol”, afirmou. Já em relação a não “skins” a conversa é outra: a violência pode surgir mesmo contra quem veste a camisola do Sporting, o que lhes vale críticas no seio da JL.

“Nas últimas três épocas, nenhum membro do 1143 esteve na claque”, avança João Guerreiro da JL. O responsável afirma mesmo que “a JL é uma claque completamente apolítica. “Já há vários anos que não se vêm símbolos extremistas no seio da JL; agora se houver alguém que vá ao estádio e, na mesma bancada da JL resolver abrir um pano com uma céltica, a claque não pode ser responsabilizada por isso”, refere.

Mariana Teixeira Santos
Foto: Stock Exchange