Celebra-se hoje, quinta-feira, o dia da criança africana, ocasião aproveitada pela UNICEF para alertar a comunidade internacional para as chamadas “emergências silenciosas” em África.

As cerimónias centrais realizam-se em Morrumbala, na Província da Zambézia, e serão dirigidas pela Ministra da Mulher e da Acção Social, Virgília Matabe, sob o lema: “Órfãos Africanos – uma Responsabilidade Colectiva”.

“As faltas mais gritantes de financiamento afectam os países que estão ainda em plena guerra civil ou que acabam de sair dela. Nenhum destes países é manchete, mas todos se encontram em situações muito graves e requerem uma atenção urgente”, afirma, em comunicado, Dan Toole, Director de Programas de Emergência da UNICEF. “Em todos estes países as mulheres e as crianças são as primeiras a sofrer e as que sofrem durante mais tempo”, acrescenta.

A organização internacional das Nações Unidas mostra-se preocupada com a actual situação vivida em África. “A meio do ano de 2005, as emergências de África mais complexas continuam seriamente sub-financiadas. Apenas dois dos dez países com emergências recorrentes estão a caminho de alcançar os objectivos de financiamento definidos pela UNICEF, mas a maior parte deles só dificilmente atingirá metade desses valores”, refere o comunicado.

São cinco os países com emergências crónicas que recebem os financiamentos mais baixos em África: Angola (14%), Libéria (18%), Burundi (19%), Guiné (20%) e Eritreia (24%).

Mais de 40 mil crianças-soldado

Uma análise dos objectivos de financiamento de emergência da UNICEF nos últimos cinco anos concluiu que a Libéria nunca ultrapassou os 50%. Após uma guerra civil de 15 anos, que terminou em 2003, o país luta por recuperar algum equilíbrio.

Mais de 40 mil crianças-soldado foram desarmadas nos últimos dois anos, “mas verificou-se uma quebra acentuada nos fundos para a sua reintegração efectiva na sociedade. A necessidade mais premente é a de fundos para a escolarização. Mais de meio milhão de crianças perdeu vários anos de escolaridade devido ao conflito”, menciona a nota de imprensa.

“Má nutrição entre as crianças mantém-se acima dos 50%”

No Burundi, as tentativas de negociações de paz fracassaram e os combates esporádicos continuam. O conflito dura há oito anos e conduziu ao constante recrutamento de crianças-soldado. A má nutrição entre as crianças mantém-se acima dos 50%. Apenas metade das crianças estão matriculadas na escola.

Na Guiné, um grande número de pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas e a instalar-se em campos de deslocados onde os recursos são insuficientes. O país sofre dos efeitos dos conflitos armados nos territórios vizinhos da Costa do Marfim, Libéria e Serra Leoa.

“Os desastres naturais tendem a obter um melhor financiamento que os países dilacerados por conflitos civis prolongados, mas a Eritreia é a excepção a esta regra,” afirma Toole. O país continua devastado após cinco anos de seca generalizada e colheitas perdidas. “2,3 milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar, incluindo 300.000 mulheres grávidas e crianças”, sustenta o documento da UNICEF.

Na vizinha Etiópia verifica-se o mesmo problema de seca. Mais de 150 mil crianças estão gravemente mal nutridas, e quase meio milhão sofrem de alguma forma de má nutrição.

“Angola tem a terceira pior taxa de mortalidade infantil no mundo”

Embora sendo um país rico em recursos naturais, as consequências dos 27 anos de guerra civil continuam a fazer-se sentir em Angola. “Angola tem a terceira pior taxa de mortalidade infantil do mundo, quase um terço das crianças do país estão mal nutridas, e metade da população não tem acesso a água potável” refere a UNICEF. A mais recente e conhecida crise acontece em Darfur, onde “quase dois milhões de pessoas já abandonaram as suas aldeias em direcção aos campos para deslocados”.

No data em que se assinala o dia da criança africana, a UNICEF afirma congratular-se com a decisão do G8 de cancelar a divida de 18 países africanos, mas apela aos lideres dos países ricos “para que considerem aumentar a ajuda aos países africanos, em particular onde as emergências se sucedem”.

Pedro Sales Dias
Foto: Stock.xchng