“Era uma vez um arrastão” vai ser hoje apresentado pela autora, Diana Andringa, às 21h00, no auditório da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, seguindo-se um debate com a presença do jornalista Rui Pereira e Luciana Mendonça, do SOS Racismo.

Espera-se um debate sobre o sensacionalismo e a falta de espírito crítico nos “media”, que tendem a seguir o que os outros dizem, assim como as ligações entre a política e os jornalistas. A iniciativa partiu do SOS Racismo em conjunto com o Jornal Universitário do Porto (JUP).

O documentário de Diana Andringa surgiu na sequência das notícias sobre os incidentes ocorridos na Praia de Carcavelos, em Lisboa, na tarde de 10 de Junho, feriado nacional em que se comemora o Dia de Portugal.

Nesse dia, os noticiários televisivos apresentaram ao país o “arrastão”, levado a cabo por cerca de 500 assaltantes negros. Os “media” abordaram a insegurança em Portugal e a existência de “gangs” organizados, comparando a situação em Carcavelos com acontecimentos semelhantes no Brasil.

Nos dias que se seguiram aos incidentes, os “media” não deram destaque aos comunicados policiais que diminuíam a dimensão dos acontecimentos e os testemunhos de várias pessoas sobre o exagero do retrato dos acontecimentos que estava a ser feito.

Alguns comentadores demonstraram ainda nos jornais as suas dúvidas sobre a falta de queixas na polícia das supostas vítimas do arrastão, mas os incidentes de Carcavelos só voltaram a ser notícia quando o “Expresso”, na edição de 9 de Julho, publicou uma notícia em que o comandante da PSP de Lisboa, Oliveira Pereira, se mostrava indignado com o “inqualificável aproveitamento político” das suas declarações numa entrevista de Diana Andringa.

A jornalista, em entrevista ao DN de 12 de Julho, afirma que decidiu investigar o caso do arrastão, porque achou que “se estava a levantar um clima de racismo e que ali havia qualquer coisa mal contada.”

Após ter entrevistado Oliveira Pereira, que “reconheceu que tinha havido um excesso da polícia” e dos “media”, Diana Andringa contactou os órgãos de comunicação social para dizer que ia colocar o documentário na Internet.

No entanto, a criação do “Era uma vez um arrastão” foi entendido como um acto político da jornalista, pois Diana Andringa é candidata do Bloco de Esquerda à Câmara da Amadora e poderia eventualmente ganhar notoriedade e votos.

A jornalista, que já foi presidente do Sindicato dos Jornalistas, defende-se dizendo que “se não fosse candidata, teria feito tudo igual”. Sobre a reacção dos jornalistas ao documentário, Andringa apelida-a de “uma espécie de loucura da classe jornalística, [que acontece] sempre que um dos seus entra num combate político”.

Joana Beleza
Foto: DR