A pré-temporada do FC Porto fica marcada por uma tentativa de passar uma esponja pela última época, possivelmente a mais atribulada de sempre do clube. A própria alteração da numeração do plantel parece simbólica – só Vítor Baía e Jorge Costa mantêm os números históricos de sempre, o 99 e o 2. José Couceiro foi substituído por ser necessário alguém “com mais experiência e carisma”, de acordo com Pinto da Costa, e a escolha recaiu na escola holandesa e em Co Adriaanse.

Após o completo fracasso das escolhas técnicas do ano passado, a administração do FC Porto parece finalmente ter acertado no perfil do técnico. Se o presidente portista pretendia um treinador “mandão” e disciplinador, parece tê-lo encontrado. Mais do que isso, desta vez o trabalho de casa parece ter sido feito: Adriaanse foi intensamente promovido como técnico “duro”. O estilo de jogo defendido pelo holandês parece também encaixar-se no perfil do clube: futebol apoiado, rápido, de passe curto e com pressão alta. A fazer lembrar Mourinho está a organização: reuniões com os jogadores, cumprimento de horários e regulamento interno apertado fazem parte da nova ordem do Dragão.

A popularidade de Adriaanse terá subido em flecha entre os portistas com a reprimenda “pública” a Leo Lima, mas também é certo que o treinador tem tentado impor ideias próprias: mais treinos à porta aberta, uma relação mais afável com a comunicação social e até adaptações de jogadores a novas posições (como os casos de Postiga e Jorginho). Com tudo isto, o fantasma de Mourinho parece estar mais diluído do que nunca.

Plantel oferece muitas opções

Com 28 jogadores disponíveis, escolhas não faltam para Adriaanse, especialmente do meio campo para a frente. O problema parece estar na defesa: os laterais Fatih Sonkaya e Leandro ainda estão em teste e Nuno Valente reupera de uma época cheia de lesões; no centro, Jorge Costa e Pedro Emanuel acusam alguma veterania, enquanto Pepe parece confirmar as oscilações de rendimento já conhecidas. Por outro lado, este deverá ser o ano de afirmação de Ricardo Costa como central, sendo Bruno Alves candidato a surpresa pela positiva.

No meio-campo, as opções são mais que muitas: Ibson e Lucho González estarão melhor colocados para assegurar a consistência do sector. Daí para a frente, Adriaanse parece querer adoptar um “carrossel” ofensivo: Quaresma, McCarthy, Jorginho, Diego e até Ivanildo podem ser os intérpretes. Lisandro López foi um dos destaques do estágio de pré-época na Holanda, mostrando-se lutador, adaptável a vários lugares no ataque e com faro de golo – os olheiros portistas dão mostras de ter encontrado um número 11 à imagem de Derlei.

No entanto, estes pressupostos não são a garantia de uma grande época. O FC Porto parte em desvantagem por ser o candidato ao título que mais alterações efectuou no plantel. E como os milagres dificilmente acontecem na formação de uma equipa, é de prever que ainda haja muito trabalho, especialmente táctico, a ser realizado. Uma crise de crescimento pode até ser previsível, especialmente se Adriaanse optar por modelos tácticos mais trabalhosos, fora do 4-3-3 canónico: as experiências em 4-4-2 e com três centrais não foram bem sucedidas.

Pontos fortes: quantidade e qualidade das opções, jogo ofensivo rápido e tecnicista.

Pontos fracos: equipa praticamente nova, instabilidade defensiva.

João Pedro Barros