A edição deste ano de Paredes de Coura vai ficar marcada pela confirmação do talento impressionante dos canadianos Arcade Fire (na foto). O burburinho em torno do álbum “Funeral” tem razão de ser e, a julgar pela recepção entusiasmante da multidão festivaleira, podemos estar perante um caso de sucesso em Portugal a seguir atentamente.

Os canadianos foram com os !!!, que actuaram na noite anterior, o melhor grupo do festival, até ao momento. Por enquanto, a noite de quarta-feira foi a mais concorrida em termos de público.

Quinta-feira é noite de Nick Cave & The Bad Seeds, Woven Hand, The National e duas figuras conhecidas do cinema, Juliette Lewis (com os The Licks) e Vincent Gallo.

Tal como os Pixies, que fecharam a noite, os Arcade Fire podem bem vir a ser a banda da geração pós-adolescente actual. Há qualquer coisa de mágico na entrega dos oito membros em palco, na forma como encarnam a loucura das suas canções, como furiosamente batem uns nos outros, numa mistura entre violência e comédia, como riem e cantam em uníssono aquelas magníficas canções.

Começaram como “Wake up”, foram a “Neighborhood #2 (Laika)” e despediram-se com as catárticas “Neighborhood #3 (The Power Out)” e “Rebellion (Lies)”. Apesar de alguns problemas técnicos, deram um concerto grandioso.

A idade já transparece nas figuras de Frank Black, Kim Deal, Joey Santiago e David Lovering, mas canções como “Where is my mind?”, “Debaser” ou “Gigantic” (belíssimo tema para terminar um concerto de sorriso nos lábios) permanecem como património de uma geração. Ao longo de cerca de hora e meia, o quarteto passou por mais de 20 canções, boa parte delas entoadas pela multidão.

Depois da entrega dos Arcade Fire, o concerto dos Roots foi pouco entuasiamante, até porque a banda passou mais tempo em “jams” do que nas canções – e o grupo de Filadélfia, liderado por ?uestlove, tem grandes temas como “The Seed (2.0)” ou “Break you off”. Pelo meio dos brilharetes, houve bons momentos com pedaços de Led Zeppelin, Queen e outros à mistura.

Os Queens of the Stone Age (QOTSA) foram uma pálida memória da banda que devastou o mesmo palco em 2003. Na altura, Josh Homme ainda estava acompanhado pelo demente Nick Oliveri e o grupo vinha apresentar “Songs for the Deaf”, um disco que já é um clássico do rock moderno. O regresso ao festival minhoto foi menos explosivo.

Algumas transformações em temas originalmente imaculados como “No one knows” não resultaram em pleno. Mesmo assim, os QOTSA continuam líderes no campeonato do rock que consegue ser bruto e “sexy” ao mesmo tempo.

Antes de Arcade Fire, os Hot Hot Heat (“power pop” açucarado com algumas canções memoráveis) e os Futureheads (entre os Jam e o pós-punk, sem grande novidade) deram concertos razoáveis. Facto assinalável: tiveram bastante mais gente junto ao palco do que o habitual em festivais de Verão.

Pedro Rios
Foto: Arcade Fire por Sandro Costa