Paredes de Coura chegou ao fim com um saldo manifestamente positivo. O concerto de Nick Cave & The Bad Seeds junta-se às memoráveis actuações de Arcade Fire e !!!. Foi a noite menos concorrida do festival, depois da enchente no dia anterior (Pixies e Queens of the Stone Age eram cabeças de cartaz).

Nick Cave protagonizou um belo fecho de festival, depois de quatro actuações sem grande impacto. Baseando boa parte do concerto no álbum de 2004, “Abbatoir Blues/The Lyre of Orpheus”, Cave mostrou-se enérgico e vigoroso. Desse disco ouviram-se canções com a luminosa “Get ready for love”. Contudo, foi nos clássicos, como “Stagger Lee”, que Cave saciou os apetites de negrume da audiência.

Antes de Cave, Vincent Gallo foi aos Yes e à folk mais minimal, sem euforias, mas com uma simpatia imensa. Contudo, a posição no alinhamento da noite não seria a mais correcta, o que lhe valeu os primeiros e únicos assobios do público em todo o festival. Ficou uma ideia: seria um óptimo concerto para ver numa sala pequena.

O concerto de Juliette & The Lick serve de prova que uma carreira com algum sucesso no cinema não quer dizer que se deva partir para a música. Juliette Lewis tenta corporizar raiva punk, mas a música soa demasiado formatada. Nem a versão de “Search & Destroy” de Iggy Pop salvou o concerto.

Coincidência ou não, o céu escureceu e ganhou tons apocalípticos durante o concerto (ou sessão exorcista?) de David Eugene Edwards, outrora líder dos incontornáveis 16 Horsepower, e agora à frente do projecto Woven Hand.

O grupo passou do palco “Songwriters” para o cenário principal do festival em substituição dos Killing Joke. A opção revelou-se acertada: a música dos Woven Hand – claustrofóbica, densa, visceral – carece de espaços grandes e a voz de Eugene (com pontos de contacto com as de Nick Cave e Peter Murphy) soou imponente no anfiteatro natural courense.

A abrir a noite, os The National mostraram o mais recente “Alligator” para uma plateia ainda reduzida. Sem surpreender, o rock sombrio e a voz taciturna reminiscente dos Tindersticks cairam bem no final de tarde do dia de encerramento.

Pedro Rios
Foto: Sandro Costa