Paulo Furtado é o maior “animal” rock’n’roll português. Já o sabíamos doutras ocasiões, mas o líder dos Wraygunn faz questão de nos lembrar a cada concerto. Desta vez, fê-lo perante um público imóvel, porventura aborrecido com a chuva ligeira que insistia em cair desde o concerto dos Bunnyranch.
Quando nada o fazia crer, Furtado (na foto) arrecadou para os Wraygunn o título de melhor concerto da 14ª edição das Noites Ritual Rock, que terminaram sábado.

Com “Eclesiastes 1.11” ainda fresco, os Wraygunn continuam a mostrar nos palcos – o seu habitat natural -, que são a mais excitante nova banda portuguesa. A imprensa internacional já reparou neles e é estranho que tenham sido recebidos no Palácio de Cristal com alguma frieza.

Temas como “Soul city” (com evocação de Martin Luther King), “She’s a speed freak” (punk rock despudorado) ou “Drunk or stoned” (com a graça da voz de Raquel Ralha em destaque) são já parte habitual da refeição rock’n’roll do grupo conimbricense. Mais inesperada foi a versão do hino “My Generation”, dos The Who. Paulo Furtado, qual Pete Townshend, esmagou a sua guitarra. Antes, houve mais desvario rock: Furtado entrou pelo meio do público; subiu a armação do palco (completamente encharcada), arriscando-se a uma queda aparatosa; simulou sexo com uma câmara de filmar; e virou uma garrafa de água pelo corpo abaixo (Estão calmos porque estão molhados? Eu estou molhado e não estou calmo!”).

Bunnyranch
Antes dos Wraygunn, os companheiros Bunnyranch deram outro bom concerto. O seu rock’n’roll é mais reverente, mas o toque vintage dos teclados de Filipe Costa e da bateria minimal de Kaló são sempre motivo de prazer auditivo. A maior surpresa do concerto foi a versão de “As tetas da alienação” dos “rapazes de Braga” Mão Morta, adaptada ao imaginário do rock primário dos Bunnyranch. Adolfo Luxúria Canibal assistia divertido entre o público.

A abrir a noite no palco principal esteve um portuense conhecido: Manuel Cruz, ex-Ornatos Violeta. Os Supernada são o seu novo projecto, ainda sem disco editado. Não andam muito longe dos Ornatos Violeta de “Cão!” ou dos momentos mais funk dos Pluto, o outro projecto de Cruz. Contudo, colocam a tónica no rock, por vezes pesado, e privilegiam refrões surrealistas. Apesar de os Supernada serem óptimos músicos, falta a estas canções o encanto dos saudosos Ornatos.

Pedro Rios
Fotos: Vasco Oliveira