O Iraque é o “local mais perigoso do mundo para os jornalistas”. Já morreram mais jornalistas no Iraque desde o começo da guerra, em Março de 2003, do que nos 20 anos de conflito armado no Vietname. A revelação dos Repórteres sem Fronteiras (RSF) surgiu domingo, no dia da morte de um operador de som da Reuters em Bagdad num ataque das forças norte-americanas.

O incidente elevou para 66 o número de jornalistas e assistentes mortos na guerra lançada pela coligação liderada pelos EUA.

“O incidente que conduziu à morte de Waleed Khaked, abatido com cinco tiros, é extremamente perturbador”, afirma a RSF num comunicado divulgado segunda-feira.

“A nossa indignação junta-se ao escândalo de ver que Haider Kadhem, a única testemunha ocular da cena, ferido pelos tiros que mataram o técnico de som, foi detido. O Estado-maior norte-americano devia realizar um inquérito exaustivo e tomar medidas sérias para que este género de tragédia não se repita”, reclama a organização internacional de defesa dos jornalistas.

A RSF recordam ainda que há dois jornalistas desaparecidos: Frédéric Nérac, da ITV News (Reino Unido), desde 22 de Março de 2003, e Isam Hadi Muhsin Al-Shumary da Suedostmedia, sem paradeiro desde 15 de Agosto do ano passado.

Entre 1955 e 1975, foram mortos 63 jornalistas no Vietname. Na guerra da Jugosláia, entre 1991 e 1995, foram assassinados 49 jornalistas, enquanto que a guerra da Algéria (1993-1996) fez 77 vítimas de trabalhadores dos “media”.

A polícia iraquiana afirmou que os dois trabalhadores da Reuters, ambos iraquianos, foram abatidos por forças norte-americanas. Um porta-voz do exército americano anunciou que o incidente está a ser investigado.

Waleed Khaled, 35 anos, foi atingido com um tiro na cara e pelo menos quatro no peito e Haider Kadhem, 24 anos, ficou ferido, depois de ter sido atingido nas costas. Ambos conduziam para cobrir o assassínio de dois polícias em Hay al-Adil, informou uma fonte do Ministério do Interior iraquiano, citando um relatório da polícia.

Kadhem disse aos colegas jornalistas: “Ouvi tiros, olhei para cima e vi um atirador americano no topo de um centro comercial”.

Segundo um relatório americano sobre o incidente, as tropas responderam a um ataque terrorista contra um grupo de polícias que feriu vários oficiais iraquianos.

Questionado sobre o incidente numa conferência de imprensa sobre a constituição iraquiana, o embaixador americano Zalmay Khalilzad afirmou: “Por vezes cometem-se erros”.