O que é que pode ser feito em termos de urbanismo para melhor integrar os estudantes na cidade?

Precisamos de dar uma integração urbanística aos pólos 2 [Asprela] e 3 [Campo Alegre], que estão completamente descaracterizados, que se enchem durante o dia e ficam desertos durante a noite. Temos que criar a possibilidade de haver uma maior integração destes pólos na cidade. Por outro lado, temos que contar com os estudantes no combate à desertificação da cidade.

Nesses dois pólos há notórios problemas de insegurança à noite.

Os pólos 2 e 3 foram desenvolvidos em torno de estabelecimentos de ensino sem terem as infraestruturas complementares que permitam a animação do espaço.

Essa desertificação durante o período nocturno não é inevitável, dada a forma como a universidade cresceu?

Cometemos um erro grave que foi a deslocalização dos estabelecimentos de ensino para serem colocados em pólos. Essa inevitabilidade decorre do facto de no Porto demorarmos muito tempo a concretizar ideias. Quando chega a altura de os concretizar, os pressupostos já estão um bocado ultrapassados.

Porque é que o Pólo Zero ainda não avançou?

Não houve vontade política da coligação PSD-PP em se dedicar a encontrar um espaço para isso. Depois do encontro que tive com a FAP, avancei com uma proposta concreta para o Pólo Zero: a Praça de Lisboa, na zona nobre da cidade. É uma praça que está completamente abandonada e a degradar-se em pleno centro da cidade do Porto. Alguns daqueles espaços podiam ser alugados e através dessas concessões poder-se-ia angariar outros espaços que estivessem disponibilizados gratuitamente aos estudantes para terem centros de informática, bibliotecas e um património de animação que era fundamental no centro do Porto.

De que forma é que a SRU pode ter em conta os estudantes?

Deveria ter, mas sendo tudo baseado numa estratégia privada, ela pretende o lucro. A única coisa que se pode dizer é que alguns dos prédios do centro do Porto se devem destinar a estudantes universitários. Com esta lógica privada, temo muito que os preços a praticar sejam muito elevados. Por isso é que eu defendo que a câmara, em parceria com as diversas instituições de ensino superior, possa ceder prédios já existentes para serem recuperados pelas instituições para residências universitárias.

É muito crítico da SRU. Porquê?

De acordo com a filosofia que presidiu à sua constituição, as SRU podem constituir problemas numa cidade como o Porto. Pode afastar cidadãos para a periferia na medida em que a requalificação dos prédios vai originar aumentos significativos das rendas. Em segundo lugar, uma SRU pode originar uma transferência massiva dos prédios das mãos dos pequenos proprietários para os grandes grupos económicos. Por outro lado, a SRU tal como foi constituída no Porto transforma-a num pelouro do urbanismo paralelo sem o controlo democrático por parte da câmara e da Assembleia Municipal. Não pomos de lado as parcerias público-privadas, mas temos que assegurar a permanência dos moradores que lá vivem, o que só é possível através de subsídios à renda.

Parece-lhe realista a criação de um certificado para a habitabilidade estudantil, ideia avançada pelo presidente da FAP?

Parece-me uma boa ideia embora considere que com as práticas do pelouro do urbanismo seja de muito difícil execução. Se temos dificuldades em atribuir muitos certificados de habitabilidade a habitações novas, mais dificuldades teremos em caracterizar fogos já existentes para ver se eles estão em condições para serem alugados a estudantes universitários. É uma boa ideia, mas ainda faltará algum tempo para a câmara do Porto estar apta a cumprir esse objectivo.

Pedro Rios
Tiago Dias
Fotos: Joana Beleza