A “única livraria da Península Ibérica onde só moram livros de poesia e teatro” nasceu em Junho de 2003, de um sonho comum a duas mulheres – Dulce Andrade e Dina Ferreira – que viriam a tornar-se sócias numa empreitada chamada Poetria, que enfrenta agora dificuldades económicas.

A livraria nasceu no número 70 da Rua das Oliveiras, no Porto, em frente ao Teatro Carlos Alberto (TeCA), num dos muitos recantos da galeria comercial com entrada também pela Rua de José Falcão, o mesmo onde, durante anos, esteve alojada uma pequena loja de discos.

Inicialmente, o objectivo era criar um espaço unicamente vocacionado para a venda de livros de poesia, mas, com a reabertura do TeCA em Setembro de 2003, a loja acabou por se dedicar também às artes cénicas. Por isso, a Poetria ocupa dois espaços: o principal é dedicado à poesia. Ao lado, na loja número 13, há o cantinho do teatro.

O público da poesia é “maioritariamente jovem”, define Dina Ferreira. No departamento do teatro, os clientes mais habituais são actores e encenadores que passam pelo TeCA e alunos de teatro da Academia Contemporânea do Espectáculo, instalado na Praça do Coronel Pacheco, perto da Rua das Oliveiras.

A Poetria pretende ser um “contraponto à massificação das grandes superfícies”, em que “há pouca poesia nas prateleiras, e teatro ainda menos”, assumem as sócias.

“Ler Camões é fixe”

Cientes de que não poderiam ter êxito apenas com a venda de livros, Dulce e Dina trataram de promover diversos eventos, como espectáculos, tertúlias e recitais de poesia. “Fizemos muitas coisas, mas não tivemos disponibilidade financeira para continuar”, lamenta Dina Ferreira.

O grande objectivo foi “criar eventos e dinâmica cultural”, explicam as sócias, e foi assim que surgiu o ciclo de sessões de declamação de poesia “Voz aos Clássicos”, no Museu Soares dos Reis, no Porto. Fizeram duas sessões sob o slogan “Ler Camões é fixe”. “Íamos continuar com Shakespeare e Dante”, adiantam, mas as despesas falaram mais alto do que os recitais de poesia.

Apesar da forte adesão registada em iniciativas anteriores, os eventos programados para o início deste ano no Palacete dos Viscondes Balsemão, na Praça de Carlos Alberto, em parceria com a Câmara Municipal do Porto estão em “stand-by”.

Entretanto, as duas sócias propuseram-se a procurar mecenas para financiar as sessões de poesia. Apenas Artur Santos Silva, do BPI (que integra as fundações de Serralves e da Casa da Música), respondeu, comprometendo-se a financiar duas sessões.

E, porque Dina e Dulce acreditam que poesia e música andam de mãos dadas, a Casa da Música afigura-se como “uma parceira possível”, que as duas sócias vão, ainda, tentar contactar. Caso consigam superar a crise financeira por que atravessa a livraria.

Texto e foto: Ana Correia Costa