Os livros são muito caros para a maioria da população portuguesa. Carla Olas, funcionária da Livraria Leitura, diz que o elevado preço dos livros “é o maior entrave à cultura”, e acrescenta que “a vida está tão cara que a escolha é óbvia: compram-se os bens essenciais e deixa-se tudo o resto para quando houver oportunidade”.

Octacílio Pinto, gerente de loja da Almedina, é da mesma opinião e afirma que, se os livros fossem mais baratos, o nível de iliteracia não seria tão grande. Em 1991 a taxa de analfabetismo era de 15,3%, superior à de outros países europeus.

As estatísticas revelam que os portugueses compram e lêem poucos livros por ano. Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes a 1999, mostram que apenas 30,7% dos portugueses com mais de 15 anos leram livros nesse ano. Apesar de os jovens de hoje lerem mais livros, graças à maior escolarização, os números ainda não são satisfatórios. “Se os livros fossem razoavelmente mais económicos, haveria mais pessoas a lerem”, garante o director da Fnac de Santa Catarina, Nuno Pardalejo. “É por isso que a Fnac pratica permanentemente 10% de desconto em todos os preços de editor”, continua.

O gerente de loja da Bertrand do Via Catarina, Nuno Bastos (ouvir entrevista na íntegra), explica que “o problema do preço dos livros é que há muitos intermediários”. “Se houvesse só editora, distribuidora e vendedor, tenho a impressão que o preço não precisava necessariamente de ser tão alto”, sustenta.

Fomentar a leitura e a compra de livros é necessário e urgente, para os responsáveis contactados pelo JPN. As estratégias a implementar passam pela redução do preço dos livros, pela diminuição do IVA e pela publicidade a obras de qualidade, segundo Carla Olas, da Livraria Leitura. Já o gerente da Almedina diz que é necessário acabar com o IVA, que actualmente em Portugal é de 5%, enquanto em Espanha os livros estão isentos deste imposto.

Nuno Pardalejo, da Fnac, diz que as escolas deveriam criar hábitos de leitura junto das crianças. A ideia é reforçada por Nuno Bastos, da Bertrand, que considera que “os professores deveriam passar aos alunos a informação de que os livros são muito importantes para o seu desenvolvimento”.

Grandes e pequenas livrarias

A Fnac introduziu um conceito de livraria inovador, ao permitir que os clientes consultem e leiam partes dos livros. Nuno Pardalejo (ouvir entrevista na íntegra) diz que a Fnac “disponibiliza um catálogo com número superior a 30 mil referências em permanência com ‘stock’, e o acesso a um catálogo com 80 a 90 mil referências através do pedido do cliente”.

“Também apostamos em praticar preços mais baixos, e completamos com o nosso fórum e com o café; o fórum é onde se praticam as leituras e as apresentações de livros, e não só, discos e peças de teatro”, explica o director da loja. Mais que um mecanismo de alavancagem de vendas, Pardalejo garante que a apresentação de livros com sessão de autógrafos “é uma forma de promoção da leitura e dos autores de escrita”.

Os preços dos livros também se reflectem no futuro das livrarias tradicionais, que pode estar ameaçado. Nuno Bastos explica que “os hipermercados e as grandes livrarias, como a Fnac e a Bertrand, como compram em maiores quantidades, a margem [adicional de lucro] que recebem dos editores podem oferecê-la ao cliente”.

Apesar de admitir que a venda de livros nos hipermercados e na Fnac ou Bertrand veio “tirar clientela às livrarias tradicionais”, não só pela inovação desses espaços, “mas sobretudo por causa dos descontos por vezes exagerados que as outras livrarias não conseguem acompanhar”, Carla Olas (ouvir entrevista na íntegra) é mais optimista.

A funcionária da Livraria Leitura diz que o futuro das livrarias tradicionais não está ameaçado, porque “as pessoas também já se vão cansando um pouco dos grandes espaços e começam a procurar aquele contacto mais próximo com a pessoa que está a vender o livro”.

O gerente da Almedina (ouvir entrevista na íntegra) também se mostra optimista e diz que as “livrarias tradicionais podem sobreviver se se especializarem em algumas áreas”, até porque as principais vantagens das livrarias especializadas são o atendimento personalizado e o facto do “cliente encontrar quase sempre o que quer”.

Rosa Carvalho
Foto: Duarte Sousadias/Arquivo JPN