Orlando Soares Gaspar é um dos dois candidatos à Comissão Política Concelhia do Partido Socialista do Porto. Com 43 anos, filho de um histórico do PS-Porto que dirigiu a concelhia por mais de uma década, este arquitecto discorda da perspectiva do seu adversário, Avelino Oliveira, que vê o partido como estando fracturado.

O candidato lança críticas a Nuno Cardoso à frente da concelhia, reafirma o seu apoio ao candidato à Federação Distrital do Porto, Renato Sampaio, e explica que não precisa do apoio do vereador Francisco Assis para fortalecer a sua candidatura.

O PS-Porto está dividido?

Não.

O seu adversário acha o contrário.

Não penso que o PS esteja dividido. O PS põe é uma energia muito grande nas suas pugnas eleitorais internas e, como tal, em momentos de eleições é um partido que firma os campos em que está. Mas também é um partido que no dia a seguir às eleições está todo do mesmo lado.

Nas presidenciais não parece ter sido esse o caso.

Mesmo nas presidenciais. Não houve uma hostilização, houve uma aceitação. Percebo o que quis dizer, houve os dois candidatos, mas isso só foi possível devido a estas características. Não houve animosidade, não houve agressividade. Sei que a seguir a este sábado o partido vai estar todo junto preparado para todo em conjunto começar a resolver os seus problemas.

Na sua opinião, a concelhia devia ter tido um maior peso na escolha do candidato para a Câmara?

A concelhia não teve peso no que se passou.

E devia ter tido?

Claro, é o que dizem os estatutos. Os estatutos são claros e tudo aquilo que era estatutário não foi respeitado, ou seja, a concelhia tem uma voz determinante em colaboração com a Comissão Política Distrital e com a Direcção Nacional na escolha do candidato. Havia aqui um diferendo na escolha dos candidatos. A Direcção Nacional por via disso avocou a escolha do candidato, que é um direito que lhe assiste. Porque a Direcção Nacional em caso de não haver acordo nas estruturas que lhe estão abaixo pode avocar o processo de escolha do candidato.

Como avalia o desempenho de Nuno Cardoso à frente da concelhia?

Eu acho que o engenheiro Nuno Cardoso teve um desempenho à frente da concelhia que não teve nada a ver com a capacidade própria que ele tem. É uma pessoa inteligente, mas que depois não conseguiu transportar para o trabalho da concelhia nenhuma das suas qualidades, que são muitas. Percebo que a candidatura dele se baseava e se centrava no processo de ele ser candidato à Câmara, e quando se vislumbrou que essa questão ia falhar acabou por falhar o processo todo. Nuno Cardoso acabou por não ter um desempenho à frente da Concelhia igual àquele que podia ter tido em condições normais.

Quais são as razões que apresenta para apoiar Renato Sampaio à distrital?

As razões que apresento são de várias ordens. A primeira tem a ver com o facto de não poder apoiar candidatos que não existem. E é uma forma de premiar a coragem de quem ousa avançar para uma pugna eleitoral desta dimensão, podendo à partida ter adversários tão difíceis como poderia ter tido ou poderia estar a ter neste momento e, portanto, se mais não fosse seria por aquilo. Por outro lado, Renato Sampaio apresenta uma possibilidade muito válida de pacificar o partido a nível do Porto. Porque o partido aqui no Porto, de há 10 anos para cá, tem estado claramente fraccionado entre Narciso Miranda e Francisco Assis, com toda a inoperância que daí resultou. Em terceiro lugar, é um indivíduo com muita capacidade de trabalho, um militante de proximidade que vai ao encontro das estruturas, e por isso parece-me que é o candidato que possui as condições para levar a distrital a um bom caminho.

Tinha preferência por outro candidato?

Não, porque isso é estar a falar no abstracto.

Não lhe parece que o apoio que Renato Sampaio manifestou à sua candidatura terá sido uma intromissão naquilo que são as eleições para a concelhia sendo ele o candidato único para a distrital?

Nestas coisas tudo tem frente e verso. Eu podia pôr a questão ao contrário: será que o Renato Sampaio, ao dizer que me apoiava para a concelhia, não corria o risco de todos aqueles que não me apoiam para a concelhia deixarem de o apoiar também a ele? Parece-me que o Renato Sampaio vai ser o líder que vai ter aquilo que tem faltado a muitos dos nossos líderes que é falar claro, coragem e carisma. Há muitos dos nossos líderes que nunca dizem aquilo que pensam por questões tácticas.

Acredita que a distrital do Porto tem tido esse tipo de líderes?

Acho que tem havido vários que não têm dito tudo o que tinham para dizer. Não estou a dizer que são todos nem quero estar aqui a criticar ninguém em especial, mas de uma forma geral há muitos líderes que se abstêm da sua posição pessoal para ir mantendo uma base de apoio o mais alargada possível.

Na sua opinião a que é que se deve o afastamento de Francisco Assis das eleições para a concelhia?

Compreendo a posição dele. Não é militante do Porto, é de Amarante, portanto vota em Amarante. Aqui no Porto entendo que ele, enquanto primeiro vereador da Câmara Municipal, não queira potenciar nenhuma das candidaturas dando-lhes o seu apoio pessoal. Não tenho nada a objectar a isto. Não estou minimamente preocupado se o doutor Francisco Assis me viesse a apoiar ou não, porque acho que para a concelhia não é determinante. O raciocínio do doutor Francisco Assis de não querer apoiar nenhum dos candidatos devia ser inverso. Nenhum dos candidatos devia querer ficar a dever um favor ao vereador da Câmara.

Acha que sendo eleito fica a dever algum favor a Renato Sampaio?

Também não.

Tiago Dias