Há apenas uma certeza nas eleições de hoje, terça-feira, para o Knesset (parlamento) israelita: o partido criado pelo antigo primeiro-ministro, Ariel Sharon, liderado por Ehud Olmert (na foto), vai vencer o escrutínio. Esta manhã as urnas registavam a afluência mais baixa de sempre. Os resultados vão ser divulgados depois do fecho das mesas de voto, às 22h00 em Israel (20h00 em Portugal).

As últimas sondagens apontavam para uma vitória do partido Kadima na ordem dos 35 membros do Knesset (num total de 120). O partido Trabalhista surge em segundo lugar com cerca de 18 lugares, e o Likud (antigo partido de Sharon) em terceiro com perto de 14. De acordo com vários analistas israelitas contactados pelo JPN, a liderança de Benjamin Netanyahu à frente do Likud pode estar em risco caso o resultado do partido seja fraco.

A campanha para a eleição do 17º Knesset foi marcada pela relativa apatia dos eleitores israelitas. Tentou-se fazer com que as questões sociais passassem a marcar a agenda dos partidos candidatos. O diário “Ha’aretz” ontem noticiava que as pensões dos reformados israelitas são das mais baixas do mundo desenvolvido.

Em editorial, o jornal israelita apelava hoje à mobilização e ao voto. “Quem perder esta oportunidade – ao colocar um voto nulo ou ao abster-se – absteve-se das especificidades da vida israelita”, escrevia-se no editorial.

O professor de Ciência Política da Universidade de Bar Ilan, Moshe Hellinger, explica ao JPN que os temas sociais fizeram parte da campanha para estas eleições, mas que o essencial não deixou de ser a retirada unilateral dos territórios ocupados palestinianos. Hellinger afirma que o unilateralismo significa “tomar nas mãos o destino e reforçar Israel enquanto um Estado judeu e democrático”. O académico esclarece que a capacidade de Olmert avançar com o unilateralismo vai depender do número de membros do Knesset que o Kadima consiga eleger.

O plano apresentado pelo primeiro-ministro interino e cabeça de lista do Kadima, Ehud Olmert, prevê uma retirada unilateral de grande parte da Cisjordânia até 2010, realojando mais de 70 mil colonos. O primeiro-ministro palestiniano, Ismail Haniyeh, já disse que recusava tomadas de posição unilaterais da parte de Olmert.

O director do Programa de Gestão e Negociação de Conflitos da Universidade de Bar Ilan, Gerald Steinberg, acredita que Ehud Olmert vai “ter dificuldades em procurar uma retirada unilateral caso o Hamas se mantenha no poder, particularmente se houver mais ataques terroristas”.

“Roteiro para a paz” nunca esteve vivo

Os vários analistas israelitas contactados pelo JPN são unânimes na avaliação que fazem do “Roteiro para a paz” criado pelo Quarteto (UE, Rússia, EUA e ONU): “nunca esteve vivo”. Gerald Steinberg refere que o Roteiro “foi apenas mais um conceito simplista para tentar obter paz instantânea, tal como os Acordos de Oslo”.

O director do Centro para Estudos Estratégicos Begin-Sadat da Universidade de Bar Ilan, Efraim Inbar, concorda e explica que, sem parceiro palestiniano viável, Olmert deverá caminhar no sentido do unilateralismo. Inbar critica o lado palestiniano, afirmando que a única maneira de ser criado um parceiro viável seria se as milícias fossem desarmadas e fosse obtido pela parte do Governo palestiniano “um monopólio do uso da força”. Já que esse objectivo não foi cumprido, o académico considera que o Estado palestiniano é “um Estado falhado”.