por André Sá. Classificação: 2 estrelas.

Filmado por Paulo Rocha no seu Porto natal, “Vanitas” é um hino à decadência humana reflectida na da cidade Invicta. O mundo da moda serve de pano de fundo à relação entre duas mulheres de diferentes gerações e perspectivas quanto à importância dos afectos.

O filme começa com a morte da mãe da protagonista. A ideia de morte está, aliás, omnipresente como superior à vaidade das várias personagens, quer através dos locais de filmagem escolhidos, como o cemitério do Prado do Repouso, quer através dos modelos de roupa produzidos por Nela Calheiros, estilista representada por Isabel Ruth, numa interpretação memorável que constitui o melhor a reter deste filme. Este termina também com a morte da sua personagem, uma espécie de mãe adoptiva e mentora da outra personagem principal, Mila, interpretada por Joana Bárcia.

Embora seja uma modelo de carreira relativamente instituída e adorada por três homens, Mila entra num processo de auto-comiseração, entre sentimentos de culpa, crises de anorexia e extremo cansaço. Com a morte de Nela Calheiros, arca com a responsabilidade de gerir a empresa e levantá-la do caos que se instaura.

“Vanitas” é um hino à decadência humana reflectida no Porto. De lamentar é que sirva também de metáfora para a decadência do cinema português. Se até um realizador conceituado e premiado como Paulo Rocha se limita a produzir um lamentável desperdício de dinheiros públicos que só irá ser reconhecido por festivais estrangeiros que não estão a par de crassos erros de direcção de actores, por incidirem no âmbito de idiossincracias regionais, então o futuro do cinema em Portugal terá de passar forçosamente pelas novas gerações de realizadores.

Um filme que é pretensiosamente descrito pelo realizador como uma obra que “vai buscar imagens e poética a um género de pintura alegórica que floresce na Europa do século XVI, representando a luta das Vaidades deste Mundo contra o Tempo e o Triunfo da Morte” devia pelo menos preocupar-se em frisar que personagens que supostamente nasceram no Porto e vivem em bairros degradados não falam com sotaque e expressões lisboetas, intercalados com um ou outro “Fuoda-se!”.

Se até um realizador conceituado e premiado como Paulo Rocha se estreia no suporte digital com títulos e créditos retirados de uma qualquer fonte do Word, chapada no ecrã num negrito verde-choque enquanto utiliza sobreposições de imagens de nível amador, então o espectador que contribuiu monetariamente para a realização deste filme terá de optar em vê-lo como uma peça “avant-garde” que critica por osmose os métodos de realização rascas, ou assumirá esta posição abertamente.

André Sá