O cenário era Inglaterra na segunda metade da década de 70. Um novo género, denominado de “punk rock”, preenchia as necessidades de milhares de jovens que procuravam um estilo que lhes permitisse demonstrar a sua revolta social, até aí retraída. Em Londres, os Sex Pistols e os The Clash estabeleciam as bases.

Em Manchester, um grupo de jovens que se tinha reunido para abrir um concerto dos Pistols começa o que viria a ser uma das mais longas carreiras do “punk”. Os Buzzcocks lançaram em Março “Flat-Pack Philosophy”, tido como o melhor álbum da banda desde que se reagrupou na década de 90. O guitarrista, Steve Diggle, na banda há 30 anos, falou ao JPN sobre os Buzzcocks e o que é o “punk” hoje.

Quando começaram a vossa carreira que diferença pretendiam fazer no mundo?

Quando começámos tinhamos muitas coisas úteis nas quais pensar, o mundo era um local muito complexo. Olhando para trás, não tínhamos um plano sobre o que é que iríamos escrever. Escrevíamos sobre as coisas que nos afectavam ao longo da nossa vida, à medida que a vida ia evoluindo.

Diria que os Buzzcocks estão hoje mais politizados do que eram há 30 anos?

Diria que está mais presente em mim agora. Mas, mesmo no primeiro álbum escrevi uma canção chamada “Autonomy”, que é sobre auto-controle. É um tema que sempre esteve presente.

Havia diferenças a nível político entre o tipo de letras que escrevia e as do Pete Shelley [vocalista/guitarrista]?

Sim, ele tende a escrever mais canções de amor. Existe uma diferença nesse sentido, mas nós apercebemo-nos que os dois tipos de canções se complementam. Se eu começasse a escrever tantas canções de amor como ele escreve, seria um bocado chato ambos escrevermos a queixarmo-nos sobre relações amorosas [risos]. Sermos opostos faz com que funcionemos.

Acredita que os novos álbuns acompanham a qualidade dos álbuns mais antigos?

Acredito. Muita gente diz que este é o melhor álbum desde há anos. Já que toda a gente soa a Buzzcocks hoje em dia, decidimos soar também (risos).

Qual é a vossa opinião em relação a isso?

É um elogio. As pessoas perguntam-nos se nós odiamos os Green Day por eles deverem muito à nossa sonoridade, o que acontece com muitas outras bandas. É bom que tenham sido influenciados por nós. Nós somos o artigo definitivo, porque inventámos essa sonoridade. Quando eu ouço essas bandas, com alguém a agir como se fosse um “punk”, é como se fosse uma versão diluída. Mas a nossa música vem da alma, enquanto parece que eles viram o que se tem de fazer e já sabem como se faz.

Acha que hoje já não há esse tipo de paixão?

Quando começámos estávamos a trabalhar às escuras para inventar essa sonoridade. Vinha de dentro de nós, tivemos de inventar esse som e esse estilo em vez de roubar isso de outra banda. Quando tocamos ainda é cru e verdadeiro, em vez de sentirmos que devíamos agir como “punks”.

Tiago Dias
Foto: DR