Há 30 anos, na sua opinião, o punk conseguiu ter impacto na sociedade?

Sim, mas só agora, 30 anos depois, é que posso responder a essa pergunta. Não podia ter respondido cinco anos depois porque penso que era mais uma atitude. Era algo dentro das pessoas, mas as pessoas queriam mostrar algo de tangível. Porque era um assalto às tuas emoções e ao lado intelectual da tua mente, que fazia com que pensasses e questionasses as coisas. E ao questionares-te sobre o que te rodeava, questionavas-te sobre o que tu próprio eras por dentro.

Acredita que essa atitude ainda existe hoje?

Penso que os miúdos andam a ouvir o “punk rock” dos Pistols, dos Clash, dos Buzzcocks e afins. Dois terços do nosso público são miúdos e acredito que estão a retirar algo disso porque vem desses dias. Claro que não é tão de primeira geração como antes. Naqueles tempos não havia telemóveis, computadores, não havia distracções nesse sentido. Penso que naquela altura era mais intenso. Não penso que as pessoas sejam tão activas politicamente como eram.

Acha que o punk rock se deve reinventar para voltar a ter a força que já teve?

Sim, até certo ponto, mas nunca poderá ser o mesmo do que quando o “punk rock” explodiu. Não consigo ver o “punk rock” a ter o mesmo impacto que teve quando surgiu. Esperemos que as pessoas que vão aos nossos concertos vejam algo diferente e inspirador para que sejam grandes enquanto pessoas.

Continua a ver-se como um viciado em orgasmos [“Orgasm Addict” é o nome do primeiro “single” dos Buzzcocks, lançado em 1977]?

(risos) Essa canção cai sempre bem junto do público. Apercebo-me que quando tocamos essa música não estou sozinho. Hoje sinto-me mais sexual do que nunca. É um pesadelo, a sério. Alguém disse na TV esta manhã que os homens pensam em sexo cada 20 minutos.

É mais qualquer coisa como 20 segundos.

Alguém disse 20 minutos, mas comigo são 20 segundos (risos). É demasiado tempo para esperar pelo próximo pensamento. Penso que somos todos assim e as mulheres também. Ter uma canção como essa, tão directa, faz com que toda a gente se possa relacionar com ela. A coisa boa do sexo é que pode ser pesado e sério, mas também divertido. Cobre uma dimensão muito vasta.

Qual é a sua opinião em relação à partilha de ficheiros na Internet?

A simples alegria de se ir à loja de discos e comprar um CD, para mim, sempre fez parte da experiência. Ainda faço isso. Não tenho um leitor de mp3. Descarregar música parece uma maneira chata de a conseguir. Não consigo apreciá-la da mesma maneira, mas percebo que é a forma moderna de o fazer. E sempre houve “bootlegs” no passado.

Então não está, legalmente, oposto aos “downloads”?

Provavelmente um dia vai matar a indústria musical porque não vai haver dinheiro para o artista e não vai ser possível sobreviver. Porque tem que se ter dinheiro para pagar a “roadies” quando se anda na estrada. Não se ganha dinheiro nenhum se as discográficas também não ganharem. Pode matar aquilo que amamos, por isso quando as pessoas fazem “downloads” deviam ter isso em mente. É como uma tourada, espetam todos os ferros no touro e vêem-no morrer lentamente.

Tiago Dias
Foto: DR