Num debate [Áudio] mais assistido por jornalistas do que por membros da comunidade académica, Ferreira Gomes e Marques dos Santos, os dois candidatos a reitores da Universidade do Porto (UP), deram a conhecer, ontem, quarta-feira, na reitoria da instituição, os respectivos projectos para a maior academia do país.

Marques do Santos tem como prioridade “colocar a UP entre 100 melhores universidades europeias em 2011” e “motivar pessoas a colaborarem em grupos de trabalho que devem arrancar ainda em 2006”. Para tal, o actual vice-reitor não se esquece de fazer menção aos 16 de anos de experiência de gestão universitária com que conta.

Já Ferreira Gomes considera que o principal problema da UP reside num “défice de imagem pública” e fala mesmo em “situação de crise”. Para o candidato, é necessário “aumentar a produção científica, ser melhor do que a média nacional”. E, adianta, “só alguém com experiência de fazer e gerir ciência pode assumir esse papel”.

A questão do financiamento, como outras, divide os candidatos. Para Ferreira Gomes, a solução passa por, com o orçamento disponível, “conseguir fazer melhor”. Desta forma, propõe “recrutar um consultor internacional, pagando-lhe o que for preciso, ajudando-o a melhorar a nossa presença nos programas comunitários”. Marques dos Santos, por seu lado, garante que “é preciso atacar no lado da investigação”, criando, para tal, gabinetes de financiamento e fomentando novos orientadores de projectos de investigação.

Os atrasos na implementação do Processo de Bolonha também foram abordados. Marques dos Santos considera que a UP “podia ter feito mais e melhor”. “Mas agora há que seguir o processo para que ele não dê maus resultados e adaptar até Novembro os cursos”, afirmou. Para Ferreira Gomes, “a UP deu a resposta possível a um percurso legislativo e político muito desorganizado”; o candidato não esconde que “há muito trabalho a fazer nesta área” e que “é preciso experimentação, para que as mudanças sejam bem implementadas”.

CDUP e Acção Social dividem candidatos

O conflito entre o Centro Desportivo Universitário do Porto (CDUP) e a universidade é uma das questões que divide os candidatos. Embora reconheça que “o serviço prestado aos estudantes tem de alterar qualitativa e quantitativamente”, Ferreira Gomes é mais brando com este organismo e considera que “deve ser negociado com o CDUP um regresso à UP”. Marques dos Santos, menos flexível, “só aceitaria o CDUP de novo na UP como unidade orgânica”.

Quanto aos Serviços de Acção Social da UP, a estratégia de Ferreira Gomes passa por “tirar melhor partido do enquadramento legal” de que a UP dispõe. “Ainda há grandes atrasos nos processos de bolsa, há que melhorar funcionamento dos serviços administrativos”, disse. Marques dos Santos propõe a “criação de um fundo interno, através de doações, que possa fazer empréstimos a alunos em situações graves”. Para o candidato, é prioritário alterar a legislação para “diferenciar bolsas, de modo a privilegiar quem mais precisa”.

As “picardias” entre os candidatos foram uma constante ao longo do debate. Marques dos Santos acusou o seu oponente de apresentar um programa de “ideias soltas”, enquanto Ferreira Gomes aludiu ao “nervosismo” do adversário, referindo-se ao seu programa como um conjunto de “micropropostas”.

O sucessor de Novais Barbosa na reitoria da UP será decidido na próxima quarta-feira, 17 de Maio. O novo reitor será escolhido por escrutínio secreto da Assembleia da Universidade, órgão colegial composto por 250 pessoas.

Andreia C. Faria