Os futuros pais vão poder aderir à criopreservação de células estaminais a partir de qualquer farmácia do país. Um protocolo entre a Associação Nacional de Farmácias (ANF) e a empresa Crioestaminal, com sede em Coimbra, vai permitir aos utentes conhecer e aderir ao processo de preservação das células estaminais a partir do cordão umbilical do recém-nascido.

“Preservar para proteger”, pode ler-se no folheto informativo da Crioestaminal, empresa de criopreservação das células estaminais que, a partir desta semana, vai ser disponibilizado pelas farmácias de todo o país, para “desmistificar um tema novo e difícil”.

Após a inscrição no serviço, os pais recebem “um ‘kit’ com todos os componentes para a colheita, que pode ser efectuada em qualquer maternidade portuguesa”, afirma Luís Gomes, bioquímico da Crioestaminal ao JPN. As células estaminais recolhidas do cordão umbilical do recém-nascido podem ser conservadas por um período mínimo de 20 anos, o que corresponde ao “número de anos durante os quais as células são viáveis”.

O objectivo é garantir a sua utilização futura, por exemplo, no tratamento de doenças cancerígenas. As chamadas “células-mãe” têm a capacidade de se transformar em qualquer tecido e são “100% compatíveis com a criança”, diz a empresa responsável pela criopreservação. Para já, “mais de 10 mil pais aderiram ao serviço prestado pela Crioestaminal”.

Probabilidade de recorrer a células estaminais “ainda é baixa”

Só “uma em cada vinte mil pessoas que recorrem ao armazenamento de células do cordão umbilical poderá usá-las em eventuais tratamentos”, o que representa, “à luz dos conhecimentos científicos actuais, uma utilidade restrita”, disse o presidente da Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapia Celular, Rui Reis, à Agência Lusa, em Novembro de 2005.

“O que se quer dizer com isso é que a probabilidade de se precisar de recorrer às células estaminais ainda é baixa, felizmente, embora no futuro as probabilidades [de desenvolver a doenças que exijam o tratamento a partir das células do cordão umbilical] vão aumentar”, explicou Luís Gomes.

Outra das críticas apontadas à utilidade deste serviço é a de que, em Portugal, a técnica de reconstituição de tecidos a partir de células estaminais quase não é utilizada. Mas para Luís Gomes, “embora ainda estejam um pouco limitadas à área da oncologia como alternativa ao transplante de medula óssea, as células estaminais têm aplicações cada vez maiores e cada vez mais são utilizadas para a reconstituição de órgãos”. “É uma área da franca expansão”, afirma.

“Já várias unidades de transplantação em Portugal efectuaram transplantes deste tipo de células”, diz o bioquímico, sendo que “em todo o mundo já foram feitos mais de seis mil transplantes a partir das células do cordão umbilical”.

Inês Castanheira
Foto: Crioestaminal