Movimento LGBT precisa de uma pessoa ou de um grupo de pessoas que o lidere, diz dirigente da Não Te Prives.

Por entre pontos positivos e alguns negativos apontados ao movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros) português por vários dirigentes associativos, houve um que levantou uma questão que nenhum dos outros responsáveis colocou. O dirigente da conimbricense Não Te Prives, Paulo Vieira, afirmou directamente: “o movimento LGBT português precisa de um dirigente, precisa de uma pessoa ou de um grupo de pessoas que o una”.

A pessoa que, para Paulo Vieira, desempenharia melhor essa função teria sido, há algum tempo atrás, não agora, Miguel Vale de Almeida. Ex-bloquista e sócio da associação ILGA-Portugal, Miguel Vale de Almeida nega que em alguma altura tenha sentido que seria a pessoa adequada para liderar o movimento.

“Movimentos destes devem ser liderados por pessoas mais próximas do associativismo, da comunidade, e até mesmo das gerações mais novas e de um certo ‘estilo de vida’, mais em sintonia com a contemporaneidade, a cultura pop”, escreve num e-mail ao JPN, a partir de Chicago.

Para Paulo Vieira, também antigo membro do Bloco de Esquerda, Miguel Vale de Almeida “não conseguiu gerir a potencialidade que tinha para agregar a si um conjunto muito diferenciado de pessoas, de tendências, de modos de olhar”. Vale de Almeida considera-se “mais útil como ‘intelectual orgânico’ e pessoa que dá a cara com ‘autoridade'”, num sociedade como é a actual, “muito hierárquica e aduladora do status em todos os sentidos”.

Vale de Almeida é da opinião que o movimento LGBT português “por ser pequeno não é coeso”, e leva a que “surjam conflitos”, que vê como sendo “típicos de muitos contextos portugueses”. O antropólogo afirma que “as principais divisões são entre grupos mais liberal/democráticos, grupos mais radicais, de inspiração libertária, e grupos mais desafectados (nem por isso menos caóticos na estratégia, porém…), ‘associativos’ ou em torno de personalidades concretas”.

Nega a suposta partidarização do movimento e vê como “extremamente perniciosa” a interpretação “proposta pela Opus Gay”. Vale de Almeida explica que “não há nenhum partido que invista sequer no movimento gay” e refere que mesmo depois de ter saído do Bloco continua no movimento e que vai continuar.

E apela às gerações novas para que “consigam sair do armário, das dependências familiares, da vergonha social”. O movimento LGBT “precisa de gente que dê a cara” e de “gente mais velha, farta de armário”, inclusive de “apoios mediáticos” (quer de actores e actrizes, quer de pessoas da música e da política) que saiam do “armário”.