Está aberto o caminho para reformar a educação no Chile, numa nova tentativa do governo para pôr fim à pior crise das últimas três décadas. A presidente do país, Michelle Bachelet, anunciou a integração de 12 estudantes no conselho presidencial para melhorar o ensino.

Na segunda-feira, mais de 600 mil estudantes do secundário e 300 mil universitários paralisaram as aulas para uma manifestação nacional. O dia foi marcado por violentos confrontos, deixando 376 detidos e 35 feridos, informou a polícia.

Trata-se da crise mais grave do governo, desde que Bachelet foi eleita em Março. É também “a primeira vez que se dá mesmo ouvidos aos estudantes”, diz ao JPN Cristina Herrera, estudante da Universidade Metropolitana de Ciências da Educação de Santiago, no Chile.

O ambiente nas ruas está mais calmo, depois de algumas cedências da presidente. Porém, Cristina Herrera descreve uma “agravação da violência sempre que os ‘carabineros’ [polícias] tentavam dispersar as manifestações”. Os estudantes do ensino secundário estão em greve há cerca de um mês, “saindo para as ruas, cantando e gritando pelos direitos”, conta.

De acordo com a estudante de Francês, serão as forças policiais que provocam a instabilidade. “Em Santiago há ‘carabineros’ por todo o lado. Quando os estudantes vão para a rua, se os polícias não aparecerem fica tudo calmo. Mas quando aparecem, é o caos.” E continua: ” Os estudantes tentam defender-se, mas os ‘carabineros’ espalham a repressão e prendem-nos”.

“A educação é muito cara e elitista”

Num país onde o correspondente ao salário mínimo é de 120 mil pesos (cerca de 175 euros), “a educação é muito cara”. Por isso, “há uma grande taxa de abandono escolar e é comum o trabalho infantil”, conta Maria Cristina.

Os objectivos do movimento do protesto dos estudantes secundários resumem-se, essencialmente, a três: alterar a lei da educação, exigir a gratuidade da “prova de selecção universitária” e obter o horário ilimitado para o passe escolar.

“A lei da educação é muito elitista, restrita e não garante qualidade ao ensino”, explica a chilena. Os manifestantes querem acabar com a jornada escolar completa e reduzi-la para meio-dia, melhorar as infra-estruturas das escolas e diminuir o número de alunos por turma. “Há turmas com 43 alunos e salas muito velhas”, explica a candidata a professora.

Para ingressar na universidade, os alunos têm de fazer a prova de selecção universitária, pagando 22 mil pesos, cerca de 30 euros. “Há muitos jovens que não podem pagar e todos são obrigados, daí a revolta dos estudantes”, completa.

Quanto ao passe, que só pode ser usado nos horários escolares, os estudantes querem passar a usá-lo de segunda a domingo. “Não deixamos de ser estudantes ao fim-de-semana”, ironiza Cristina Herrera.

Os protestos continuam mas os ânimos estão mais calmos. “Os estudantes estão cansados. Agora são pequenos grupos que se vão manifestando”, conclui a estudante.

Carina Branco