Cavaco Silva completa, hoje, 100 dias desde a tomada de posse como Presidente da República. Os primeiros meses são marcados pelo esforço em cumprir as promessas de “cooperação estratégica” entre Belém e S. Bento, “não prescindindo dos poderes que a Constituição lhe confere”, como avisara aquando da candidatura.

O Presidente da República fez uma “presidência aberta”, a que chamou de “Roteiro para a Inclusão“, visitou as tropas portuguesas no Kosovo, vetou a Lei da Paridade, chamou à atenção o ministro da Agricultura e deu sinais de confiança na ministra da Educação.

No discurso do 25 de Abril, calou-se sobre o estado da economia portuguesa para defender a coesão social e nacional num “país a duas velocidades”. Um discurso “de esquerda”, sem cravo na lapela.

Um mês depois, o Presidente da República passou das palavras aos actos e iniciou o “Roteiro para a Inclusão”. Obedeceu a um programa de visitas temáticas pelo país em torno do combate à exclusão social, sobretudo dos idosos, imigrantes, sem-abrigo, vítimas de violência doméstica e crianças em risco.

Comandante Supremo das Forças Armadas, Cavaco Silva visitou as tropas portuguesas na Bósnia e no Kosovo, onde se vestiu de camuflado militar. Depois, no Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas voltou a mostrar o apreço às Forças Armadas com a realização de um dos maiores desfiles militares dos últimos 30 anos.

No 10 de Junho, o economista falou na importância das comunidades para “um aumento da competitividade da economia, num combate contra as desigualdades e promoção da inclusão social”.

As promessas de estabilidade e “cooperação estratégica” com o Governo socialista tiveram eco quando Cavaco Silva concordou com o envio para Díli de 120 militares da GNR.

Mais recentemente, em véspera da greve nacional de professores, o chefe de Estado manifestou o seu apoio a Maria de Lurdes Rodrigues. “Deixemos a ministra da Educação actuar”, disse.

Veto à lei da paridade e recados ao ministro da Agricultura

Na altura em que apresentou a candidatura à Presidência da República, Cavaco Silva avisou que o titular deste cargo “não pode prescindir dos poderes que a Constituição lhe confere”.

Por isso, o Presidente vetou a Lei da Paridade, no dia 2 de Junho. José Sócrates reagiu tranquilamente, como que preparado para a decisão de Cavaco. “O Presidente comunga das preocupações do Governo”, disse o primeiro-ministro.

O outro episódio que mostrou alguma dissonância com o Governo foi o recado do Chefe de Estado ao ministro da Agricultura, a propósito do diferendo entre Jaime Silva e a Confederação dos Agricultores de Portugal. “Devo dizer que estes atritos já duram há demasiado tempo”, lançou Cavaco.

O Chefe de Estado inicia na segunda-feira, 19 de Junho, a 1ª Jornada do Roteiro para a Ciência, dedicada ao tema “Biociências e Biotecnologia”. Durante dois dias, o presidente passará pelas Universidades do Porto, Minho e Coimbra.

Carina Branco
Foto: Carina Branco/Arquivo JPN