Sendo a única região europeia onde se produz chá, os Açores reservam-se ao direito de defender uma das suas exportações mais características.

Em entrevista, o presidente da Casa dos Açores do Porto, José Manuel Rebelo, explica a história do chá no arquipélago e as particularidades dos chás açorianos.

Como começou a história da produção de chá nos Açores?

Começou no início do século XIX quando as pessoas trouxeram o chá do Brasil. A Sociedade da Indústria Micaelense, da ilha de S. Miguel, deu um impulso fundamental para o cultivo da planta do chá, providenciando a vinda de dois chineses. Chegaram à ilha em Março de 1978, ensinando a produzir esta bebida. Só a partir da vinda destes dois chineses é que se começou a produzir ao nível industrial, passando a ter relevância económica.

Qual foi a evolução da produção de chá e a sua relevância económica?

Até meados do século XX havia 12 a 15 plantações de chá nos Açores, principalmente na costa norte da ilha, no concelho de Ribeira Grande. Embora ainda hoje existam pessoas que continuam a produzir chá em casa, para seu próprio consumo. Mas depois a produção começou a decair, principalmente com a política do Estado Novo de protecção ao chá de Moçambique. Depois, a pouco e pouco, foram desaparecendo. Actualmente restam somente duas plantações de chá, que é a plantação de chá da Gorreana e a plantação de Porto Formoso.

Quando se fala de chá tipicamente dos Açores estamos a falar de que tipo de chá e com que potencialidades?

Há várias variedades de chá, todas provenientes da planta “camellia sinensis”. Chá de tília, chá de cidreira, isso não são chás no verdadeiro sentido da palavra, são tisanas. Desse há algumas variedades produzidas nos Açores, como o chá “orange pekoe”, o “pekoe” ou o “broken leaf”. Todos estes chás são produzidos, quer na Gorreana, quer no Porto Formoso, só que a única plantação que produz o chá verde é a da Gorreana. É um chá não fermentado, leve que os chás pretos, tem um sabor que lembra as plantas verdes e tem propriedades terapêuticas (anti-cancerígenas, anti-inflamatórias), é purificador do organismo e é o chá mais consumido pelos chineses. A sua produção na ilha de S. Miguel quintuplicou nos últimos 10 anos.

Em Março a Casa dos Açores organizou o I Congresso Nacional do Chá. Qual foi o conceito que impulsionou esta iniciativa?

A ideia foi, por um lado, dar a conhecer as características boas desta bebida, que é a segunda mais consumida depois da água. Por outro lado, fazer um estudo sistemático no aspecto científico de todas as características do chá. Depois, também interessou a parte comercial e as potencialidades do solo açoriano para a produção de chá, o que tentou incentivar os jovens empresários a investir neste ramo. Esta é uma exportação fácil porque é um produto leve. Um pacote de chá dá para umas dezenas largas de chávenas de chá. Os Açores são a única região do território europeu onde se produz chá. Fizemos o registo da patente “Chá dos Açores –o chá europeu” no Instituto Nacional da Propriedade Industrial e estamos também a tentar fazê-lo ao nível da União Europeia.

Depois do sucesso desta iniciativa, existem mais projectos do género para o futuro?

Em relação ao chá, estamos a preparar a criação de uma Confraria Nacional do Chá.

Texto e foto: Sónia Santos