“Lamento de los muros”, da argentina Paula Luttringer, é uma mostra de fotografias sobre memórias de prisões clandestinas. As fotografias são acompanhadas por textos que reproduzem as lembranças de 50 mulheres que, tal como a fotógrafa, fizeram parte das milhares de pessoas presas e raptadas pela ditadura militar na Argentina, entre 1976-1983.

A exposição será inaugurada a 22 de Julho, no Centro Português de Fotografia (CPF), no Porto. Simbolicamente, “a cadeia [da Relação] recebe os lamentos de outras cadeias”, referiu ao JPN Paula Luttringer.

O título da mostra, “El Lamento de Los Muros”, surge das impressões da artista, quando visitou alguns centros de detenção clandestinos. “Fiquei com a impressão de que aqueles muros guardavam o lamento das pessoas que ali passaram. A prisão guarda aquilo que se sofreu lá dentro”, explica.

Nas imagens não há rostos. Há sombras, objectos, texturas, muros, grades. A preto e branco. A artista tirou as fotografias a partir dos testemunhos que recolheu e das suas próprias memórias.

Obrigada a permanecer “com uma venda”, Luttinger só via “para baixo ou para cima”. “Não tinha uma visão clara, tal como acontecia com todas aquelas mulheres”. “O meu trabalho consistiu em falar com gente que viveu nesta condição e ver do que se lembravam. É como fazer um quebra-cabeças de memórias diversas”, descreve.

Em 1992, Paula Luttringer começou a fotografar os testemunhos da história da ditadura. Mostrou-o à Argentina e ao mundo, a partir de 1998, com “El Matadero”, e de 2000, com o projecto que vai estar em exposição no CPF.

30.000 argentinos foram mortos e cerca de 100.000 foram interrogados, encapuzados e torturados em mais de 240 prisões clandestinas na ditadura militar.

As imagens surgem como “uma voz dada a todas as mulheres que nunca puderam falar” do assunto “nem à família, nem à sociedade”. A reacção das argentinas não tardou. “Uma delas disse-me uma coisa maravilhosa: ‘pela primeira vez estamos a falar e a chorar juntas’. Porque a tortura e o sequestro são feitos de solidão e silêncio”, diz.

A exposição tem outro sentido: “alertar para os sequestros que continuam a existir no mundo actual. Hoje há lugares, sem legalidade nenhuma, onde vai muita gente parar”, desabafa Paula Luttringer.

Duas outras exposições abrem a 22 de Julho

“Vesúvio”, de Marta Sicurella, e “A África pelos Africanos” são as outras exposições inauguradas em paralelo com a mostra de Paula Luttringer.

Em “Vesúvio”, a vencedora do Prémio Pedro Miguel Frade do Centro Português
de Fotografia, capta rostos em grande plano, enquadrados em telas panorâmicas e recortadas do céu.

“A África pelos Africanos” é uma colecção de 100 fotografias, que se passeiam pela Argélia, Senegal, Madagascar, África do Sul, Zimbabwé, Togo, Guiné, Angola e Moçambique. Há muitos retratos, cores fortes, impressões jornalísticas e ambientes que se repetem.

Carina Branco
Foto: DR