Cerca de 500 pessoas, de cidadãos anónimos a figuras da cultura e política portuenses, estiveram ontem, segunda-feira, ao fim da tarde, frente ao Teatro Rivoli para protestar contra a privatização deste equipamento cultural, anunciada pelo presidente da Câmara do Porto na semana passada.
A passagem da gestão do Rivoli a privados deve ser aprovada hoje, em reunião de câmara, com os votos favoráveis da coligação PSD/CDS-PP e contra de toda a oposição
“Ainda queremos acreditar”, disse ao JPN Ada Pereira da Silva, directora da Plateia – Associação de Profissionais das Artes Cénicas, que organizou o protesto. A Plateia admite construir uma “plataforma” para se candidatar à gestão do Rivoli.
Rui Rio anunciou, na semana passada, que a autarquia vai receber propostas de companhias de teatro interessadas em gerir o espaço até ao final de Setembro. Até ao fim de Outubro será apresentada a companhia seleccionada. A directora da Plateia não acredita que uma companhia sozinha seja capaz de assumir essa função.
Francisco Assis, vereador do PS, criticou a “decisão errada” de Rio, porque “a cultura é um valor em si mesmo e cada vez mais um investimento numa estratégia de afirmação da cidade”. “O Porto precisa de projecção. Não perceber isto é uma coisa trágica”, disse.
“Não tenho esperanças em relação ao doutor Rui Rio. Ele não vai mudar, mas quem vier para aqui não vai ter o apoio da população”, disse o deputado do Bloco de Esquerda João Teixeira Lopes.
Também Rui Sá, vereador da CDU, salienta a importância do teatro municipal para “criar cidadania e públicos” e “fixar agentes culturais” no Porto. “Não podemos analisar um teatro como o Rivoli do ponto de vista de um merceeiro”, disse, em resposta aos argumentos invocados por Rui Rio.
Segundo o presidente da Câmara do Porto, a autarquia investe 7.500 euros por dia no Rivoli, o que corresponde ao dobro do investimento do município na reabilitação de escolas. Francisco Assis não aceita este argumento. “Não é aceitável fazer uma comparação entre cultura e educação, que é uma área em que a câmara tem poucas competências”, disse o socialista ao JPN.
O músico Pedro Abrunhosa e o presidente da Associação Comercial do Porto, Rui Moreira, foram algumas das muitas figuras conhecidas presentes na vigília de protesto. Para Rui Moreira, a privatização da gestão do Rivoli é a “consequência de não ter havido política cultural nos últimos cinco anos” e representa a demissão da câmara relativamente à “resolução de problemas [na gestão do teatro] que estavam na sua mão”.