“A energia nuclear é económica e não emite dióxido de carbono mas tem dois problemas centrais”: “ainda não foi implementado um método eficiente de armazenar os resíduos” e “a complexidade dos reactores é cara e torna possível a ocorrência de acidentes”.

O retrato é de Pedro Cosme da Costa Vieira, docente da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), e está expresso num “working paper” [PDF] publicado hoje, terça-feira, onde defende a existência de um mercado global de resíduos e um novo modelo de reactor nuclear mais seguro.

Actualmente, “os resíduos ficam armazenados” nas próprias centrais nucleares sem tratamento. “Não se sabe quanto é que isto vai custar às gerações futuras. Só pode ser avaliado se existir um mercado”, explica ao JPN Pedro Cosme da Costa. Segundo o investigador, é “preciso um mercado” em que existam agentes que procedam ao tratamento ou reciclagem dos resíduos, algo que “teoricamente já se sabe como fazer” mas que ainda não é colocado em prática por razões meramente económicas.

A Inglaterra e a França são os países mais avançados no tratamento de resíduos nucleares, mas a Rússia quer liderar o mercado, propondo, não só esse processamento, mas também o armazenamento dos resíduos já tratados.

A aprovação, este ano, pelo Congresso norte-americano da possibilidade de compra deste tipo de serviços à Rússia por parte das centrais nucleares é o “início de um mercado”, diz Cosme da Costa. Tendo em conta a produção nuclear actual, se todos os resíduos fossem tratados, este mercado valeria 10 mil milhões de dólares (o tratamento de cada quilograma de resíduos custa um milhão de dólares).

O investigador da FEP defende que a Agência Internacional para a Energia Atómica controle as vendas e compras de resíduos para impedir os desvios deste material, que pode ser usado na construção de bombas atómicas muito radioactivas (as chamadas “bombas sujas”).

A falta de uma forma eficaz de armazenar os resíduos é o “principal obstáculo para o desenvolvimento de uma indústria nuclear”, que, no entender do investigador, é essencial para o crescimento económico dos países, incluindo Portugal.

“Para se poder viver bem em Portugal temos que tomar decisões que passam pelo nuclear. Não existe alternativa”, diz o investigador, que publicou, em Abril, um estudo [PDF] sobre as vantagens económicas para o país da adopção deste tipo de fonte energética.

Novo tipo de reactor

No mesmo artigo, Pedro Cosme da Costa propõe um novo modelo de reactor nuclear, baseado em água pesada, que, devido à baixa quantidade de neutrões, não permite a fusão nuclear (fenómeno que originou o desastre de Chernobyl). Só 10% dos reactores nucleares em funcionamento baseiam-se em água pesada.

A novidade, contudo, é a não existência de zircónio no revestimento do reactor, o que permite “usar resíduos de outras centrais” e triplicar a produção. O reactor idealizado pelo investigador da FEP teria ainda menor probabilidade de gerar pequenos riscos originados por “fugas nas juntas dos tubos”, já que seria composto por tubos de largo diâmetro.

Pedro Rios
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