“BLAM!”, “Whooom!” e outras onomatopeias bem sonoras, enquadradas em balões graficamente excêntricos, ilustram as explosões de dois aviões contra duas torres gigantes. As imagens podiam ser de mais um livro de banda desenhada, pleno de acção, heróis, explosões, velocidade e adrenalina. Mas desta vez, a banda desenhada é real e não há “Super Homem” ou “Os Quatro Fantásticos” que salvem as últimas páginas.

“The Illustrated 9/11 Comission Report” é a banda desenhada que acabou de ser lançada, pela editora Hill e Wang, nos Estados Unidos, nas vésperas dos cinco anos do atentado ao “World Trade Center”. A adaptação gráfica do acontecimento é da autoria do argumentista Sid Jacobson e do desenhador Ernie Colón, dois veteranos da BD, que já trabalharam nas maiores editoras da área, a “DC Comics” e a “Marvel Comics”.

Do traço ficcionado ao esboço da realidade

São 150 páginas que condensam as 600 do relatório oficial da Comissão que investigou os ataques terroristas contra os Estados Unidos. Não há espaço para fantasia. A BD quer tocar o documentário. Ou a infografia jornalística. Ou, segundo os próprios autores, quer ser apenas mais um livro baseado em factos verídicos, com o objectivo de atrair os leitores mais jovens.

A simplificação do relatório sobre o 11 de Setembro de 2001 tem semeado opiniões divergentes na opinião pública norte-americana, ainda muito sensível ao tema, como aliás justifica o facto de Hollywood só agora ter lançado o filme “Voo 93”. Mas a BD, normalmente conotada com ficção, consegue desenhar rostos como o do vice-presidente Cheney, dado que Ernie Colón trabalhou a partir de fotografias.

O próprio texto é mais um elemento que imprime, de forma feroz, veracidade à BD. “Para os americanos, o Afeganistão parecia muito longe. Para a AL Qaeda, a América parecia muito perto. De certa forma, eles estavam mais globalizados do que nós”, lê-se na página 108.

Esta não é, porém, a primeira vez que temas reais e difíceis são adaptados à arte do desenho. “Maus” do consagrado autor de BD Art Spiegelman, ganhou o Prémio Pulitzer em 1992 e conta a história do seu pai, um sobrevivente do Holocausto. De resto, os acontecimentos do 11 de Setembro já tinham sido contados em BD por Spiegelman em “In the Shadow of No Towers”, publicado em 2004.

Carina Branco
Foto: DR