Rui Rio foi novamente o nome mais ouvido durante a manifestação promovida hoje, quinta-feira, pelo grupo que ocupou o Rivoli durante três dias em protesto contra a privatização do único teatro municipal da cidade do Porto. O presidente da Câmara foi criticado pela “falta de sensibilidade” no tratamento do caso.

O mau tempo que se tem feito sentir no Porto não impediu que se reunissem junto do edifício do Rivoli perto de duas centenas de pessoas, ao final da tarde.

“Os ecos de apoio à resistência vindos de todo o lado provam que a adesão e as reivindicações encontraram um acolhimento expressivo por parte da população do Porto”, afirmou a dramaturga Regina Guimarães num comunicado lido a alta voz.

Por isso, “a atitude [dos ocupantes] mostrou ser plenamente legitimada num contexto que os agentes culturais não dispõem de grandes meios para reivindicar”.

A seguir vieram as críticas. Rui Rio foi acusado de “falta de sensibilidade e de não ter capacidade para escutar as reivindicações” do grupo que teme ainda que a decisão do autarca se repita noutras câmaras do país. “Uma funesta vitória dos desígnios de Rui Rio pode encorajar outros autarcas a fazer o mesmo”, preconizou Regina Guimarães.

Aos jornalistas, a dramaturga, que foi uma das ocupantes, confirmou que a reunião com a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, será “no início da [próxima] semana”.

Questionada sobre se a responsável pela pasta da Cultura terá força suficiente para fazer recuar a posição da Câmara, Regina Guimarães preferiu apelar à união dos profissionais do palco: “Os artistas têm que constituir uma força de pressão que tenha legitimidade”.

Teixeira Lopes acusa Rui Rio de “terrorismo intelectual”

No início do protesto foram lidas várias manifestações de apoio por parte de várias personalidades ligadas à cultura. O realizador Luís Miguel Cintra apelidou de “aberração” a política de cultura “puramente comercial”, enquanto a coreógrafa francesa Martine Pisani, que já esteve ligada a alguns espectáculos realizados no Rivoli, expressou o desejo de que a “política de privatização do teatro seja discutida com os agentes culturais e com os habitantes da cidade do Porto”.

João Teixeira Lopes, do Bloco de Esquerda, foi mais longe nas críticas e, num texto intitulado “Rivolivre”, acusou Rui Rio de “terrorismo intelectual” por utilizar o concerto de Luís Represas a favor da paramiloidose para “chantagear” o grupo de ocupantes. Cavaco Silva também não escapou ao comentário de Teixeira Lopes, por tratar a cultura como uma “questão menor”.

De acordo com Regina Guimarães, o grupo de ocupantes vai reunir-se amanhã à noite para delinear uma estratégia de acção e encontrar “uma plataforma comum”.

Texto e foto: João Queiroz
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