Cinco anos após a queda do regime taliban, e apesar das promessas e de alguns progressos legais e constitucionais, a vida das mulheres afegãs pouco mudou. De acordo com relatório divulgado hoje, terça-feira, por uma organização não-governamental (ONG), a discriminação e a violência ainda fazem parte do quotidiano feminino no Afeganistão.

O estudo do grupo Womankind Worldwide foi feito com base em registos vídeo do dia-a-dia das mulheres afegãs. Ainda que a recente resolução aprovada pelo governo do país asiático reforce a participação da mulher na vida pública, ela continua a viver sem liberdade, protecção e sem o direito de se casar livremente.

Um dos grandes problemas apontados são os casamentos forçados – que representam 80% do total – e que estão directamente relacionados com os casos de autoflagelação. E para agravar a situação, mais de 57% das afegãs casam antes dos 16 anos.

O relatório nota que os últimos dois anos testemunharam um número elevado de mortes de mulheres envolvidas na política ou em organizações activistas, a manutenção de “formas severas de abuso doméstico”, casos de pedofilia e rapto.

Esta ONG alerta também para o facto de as autoridades raramente investigarem as queixas das mulheres que são alvo de ataques e por isso sugere: “É imperativo que, no domínios dos direitos das mulheres, os ‘media’, os governos e as organizações internacionais tenham uma acção imediata em áreas como a educação, os serviços de educação e saúde.”

Os órgãos de comunicação social aparecem no relatório como um dos agentes fundamentais para inverter a situação vivida pelas mulheres afegãs. Para a Womankind Worldwide, é necessário que as notícias sobre a discriminação que se assiste no Afeganistão não sejam manipuladas pelos poderes locais e que os meios de comunicação social divulguem as estatísticas sobre o número de mulheres e crianças vítimas da discriminação sexual.

O relatório deixa ainda algumas recomendações ao governo afegão que passam por, entre outras, dar prioridade à manutenção e à construção de abrigos das mulheres, providenciar suportes de reabilitação de serviços de protecção de mulheres e crianças em risco de tráfico e prostituição e dotar com meios eficazes o sector de segurança do Afeganistão para conseguir responder aos casos de violência doméstica.

João Queiroz
lj03039 @ icicom.up.pt
Foto: Womankind Worldwide