A decisão da Fundação Eugénio de Andrade (FEA) de recusar o subsídio de 15 mil euros proposto pela Câmara do Porto terá um forte impacto na vida da instituição cultural. A FEA recusou o apoio monetário por discordar da cláusula do contrato que os impedia de criticar publicamente o município.

“O subsídio vai fazer muita falta, porque a FEA é uma fundação pobre, que vive de parte dos direitos da venda de livros de Eugénio de Andrade, porque não teve nenhum fundo que o próprio poeta ou alguém deixasse e porque as vendas a preços baixos não podem dar grande lucro”, afirma ao JPN o presidente, Arnaldo Saraiva. A FEA recebe também apoios pontuais do BPI e da Axa Seguros, “sem exigência de nenhuma espécie”.

Arnaldo Saraiva considera a cláusula “inaceitável”, pois “iria contra a dignidade de uma instituição, mesmo que esta não tenha por fim a crítica”.

O presidente da fundação critica ainda a decisão da autarquia de cortar os subsídios pecuniários a fundo perdido. “Lamento a concepção que se vai transmitindo da parte da autarquia de que toda a gente na cultura trabalha com inutilidades, ou que toda a gente que pertence a instituições que pedem subsídios é subsídio-dependente”, explica, garantindo que a FEA não tem essa dependência.

Para Arnaldo Saraiva, a câmara tinha o dever de financiar a fundação, porque esta “é pertença da cidade do Porto”. Rui Rio devia, segundo o presidente da FEA, seguir o exemplo da autarquia lisboeta, que dá apoios à Fundação Fernando Pessoa.

O Estado também não fica isento de reparos. “Esperaríamos que o Estado, como a autarquia, reconhecessem a utilidade pública da FEA até porque a poesia de Eugénio de Andrade conquistou o mundo e dignifica a cultura portuguesa em qualquer parte”, sustenta.

Cristina Villas-Boas
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Foto: Secrel