As companhias tradicionais só têm a ganhar se aprenderem algo com o modelo de governo corporativo das concorrentes de baixo custo. O modelo é “transportável” em vários pontos, o que permitiria baixar custos e competir mais facilmente com as “low cost”. A receita é dada ao JPN por Cristina Barbot, do Centro de Estudos de Economia Industrial, do Trabalho e da Empresa da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).

A docente analisou, em conjunto com Carlos Alves, do Centro de Estudos Macroeconómicos e Previsão, a estrutura organizacional de 49 companhias tradicionais e de baixo custo de todo o mundo. Concluíram que a forma como o modelo de governo corporativo das “low cost” se relaciona com o seu modelo de negócio, marcado pela simplicidade dos produtos e processos, rapidez e apertado controlo de custos.

“Muito já foi escrito sobre as condições competitivas das companhias ‘low cost’, mas muito pouco sobre os seus sistemas de governo corporativo, que permitem essas condições”, lê-se no “working paper” [PDF], publicado este mês.

O estudo aponta que as características das “low cost” impõem que elas tenham conselhos de administração mais leves, quadros menos preenchidos, com menos comissões e executivos de topo.

Para a simplicidade e agilidade organizativa, que permitem a rápida tomada de decisões e a estratégia agressiva destas companhias, contribui ainda a proximidade entre as estruturas accionista e gestora – um gestor que é também accionista tem mais interesse em ver a empresa prosperar, defende a investigadora.

É um ciclo virtuoso: para controlar a actividade dos gestores (mais propícios a errar, já que existem em menor número do que nas companhias de serviço completo), os resultados atingidos são recompensados com remunerações e acções da empresa, o que favorece a maior coincidência entre estruturas accionista e gestora.

Competição difícil

Apesar das especificidades do modelo de negócios das companhias tradicionais, estas podem aplicar medidas como o emagrecimento dos conselhos de administração (mais complicado nas empresas estatais), quadros gestores e do número de comissões.

“As companhias tradicionais viveram muitos anos de monopólios ou duopólios, com acordos bilateriais entre elas. Descuraram muito a sua eficiência. As ‘low cost’ deram o empurrão”, afirma Cristina Barbot, que observa já algumas reacções à agressividade dos concorrentes, como a redução do número de comissões, o “’catering’cada vez mais fraco” e a venda de bilhetes pela internet.

A investigadora diz que a concorrência feroz e os preços imbatíveis das “low cost” tornam a competição “difícil”. Mas “é possível segmentar” o mercado, apostando em voos de longa distância, mais rentáveis e para um “público de negócios”. Nesse cenário, as “low cost” podem assumir o papel de complementaridade, realizando os voos mais curtos.

Pedro Rios
prr @ icicom.up.pt
Foto: SXC