Avança para a terceira edição aquele que se afirma como um dos mais interessantes e sólidos festivais que se realizam em Portugal: o Festival para Gente Sentada. Este ano, como sempre no Cine-Teatro António Lamoso, em Santa Maria da Feira, os grandes destaques vão para Adam Green (na foto), hoje, e para um segundo dia de luxo, com Sparklehorse, Emiliana Torrini e Ed Harcourt, amanhã.

A estética dominante do festival é a dos cantautores, com destaque para a folk e para o country, mas sempre com uma grande diversidade de instrumentações entre os artistas convidados, que não prescindem obrigatoriamente da electricidade nas suas actuações. Já o carácter intimista é quase obrigatório. Outra característica do festival é apostar em estreias absolutas em Portugal, geralmente nos momentos de pico criativo dos autores.

Canções a partir do nada

Caso disso é Adam Green: já com quatro álbuns a solo na sua conta pessoal (depois de alguns anos com os The Moldy Peaches, banda punk actualmente sem actividade), “Jacket Full Of Danger”, lançado em Abril, começou a dar uma aura de elogio consensual ao norte-americano.

Green é daquelas músicos que dá a impressão de conseguir fazer músicas a partir do nada, com a maior das facilidades. Usando de um humor corrosivo nas letras (“Jessica”, crítica bem humorada a Jessica Simpson, é um bom exemplo), as suas composições são geralmente curtas (poucas chegam aos três minutos), mas evitam a monotonia através do recurso a harmonias inesperadas, nomeadamente com recurso a instrumentos de cordas.

No mesmo dia de Adam Green actuam ainda Fink, pseudónimo de Fin Greenall, inglês que ao vivo se costuma apresentar num trio que explora ambiências “bluesy”, com muita “slide-guitar” à mistura, e Stuart Robertson, que baseia as suas composições no uso do piano, procurando muitas vezes um cruzamento entre o jazz e a pop. No concerto em Portugal, Robertson vai estrear novas composições que deverão figurar num novo álbum de originais, a lançar em 2007.

Sparklehorse e Emiliana Torrini em estreia

O segundo dia do festival é rico em nomes fortes do panorama “indie”. O maior destaque talvez vá para os Sparklehorse, mais uma estreia em Portugal com álbum novo, “Dreamt For Light Years In The Belly of a Mountain”. O projecto de Mark Linkous segue nesse disco o caminho pop-rock alternativo, entre temas mais solarengos e outros mais sombrios, com produção algo minimalista e um tom “beatliano”.

A islandesa Emiliana Torrini, que já suscitou inevitáveis comparações com Björk, não apresenta novo disco, devendo antes basear-se em “Fisherman’s Woman” (2005), que aposta num som mais acústico do que o seu trabalho anterior, com a guitarra e a voz a serem apenas pincelados com discretas subtilezas sónicas, nomeadamente com o recurso de sintetizadores.

Ed Harcourt, outro escritor de canções prolífico, é o único nome do dia que já passou por território nacional, trazendo na bagagem “Beautiful Lie”, lançado em Junho.

Os concertos começam às 22h e os bilhetes podem ser adquiridos no local. Para quem não aproveitou o período de venda antecipada, o bilhete para os dois dias custa 25 euros e o de um dia 18 euros.

João Pedro Barros
Foto: DR