Experimente fechar os olhos e tentar escrever um texto num processador de texto ou aceder à internet. As tarefas mais básicas na utilização de um computador tornam-se complicadas para as pessoas invisuais. Para facilitar a aprendizagem do acesso aos computadores, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) desenvolveu, em conjunto com um grupo de formadores nesta área, um projecto considerado “inovador”.
O “Curso de Acesso ao Computador Pessoal Usando o Leitor de Ecrã” (CALE), apresentado hoje, baseia-se num CD multimédia interactivo que, através de uma voz sintética, dita os conteúdos de aprendizagem e fornece exercícios. O programa permite acompanhar a evolução do formando, que pode aprender sozinho ou com um formador.
O projecto foi desenvolvido em cerca de um ano. Nasceu a partir de uma ideia proposta por quatro pessoas, todas elas cegas ou com baixa visão, que elaboraram os conteúdos. O motor informático do tutorial foi desenvolvido por dois docentes da FEUP.
O projecto de tutorial foi concebido para o leitor de ecrã JAWS (“Job Access With Speech”) e o curso explica como utilizar o Windows, Internet Explorer, Microsoft Word, Excel e outros programas através deste sistema que transforma em voz os comandos e os textos presentes no monitor. O JAWS é o mais popular deste tipo de sistemas.
A vantagem deste curso está na sua interactividade, que permite diferentes caminhos de aprendizagem, ao contrário dos manuais já existentes, que se assemelham a cassetes explicativas, ou outros tutorais que não existem em português.
É por isso um “produto único e inovador”, no entender do coordenador do projecto, Diamantino Freitas, do departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores da FEUP.
Inserção profissional
O CALE é um tutorial indicado tanto para iniciantes como para utilizadores com conhecimentos mais avançados. Dentro de duas semanas, estarão prontas 500 cópias do CD que serão dados a todos os interessados (desde escolas a utilizadores individuais), desde que provem que necessitam dele. Os pedidos poderão ser feitos pelo “site” da FEUP.
Para Daniel Serra, um dos autores do CALE e formador de informática para invisuais, o tutorial poderá ser muito útil às “pessoas que estão fora dos grandes centros urbanos” onde se concentram os centros de formação.
“Muitos invisuais não usam computador e outros só usam o básico devido à falta de formação”, constata Daniel Serra, ele próprio cego. A falta de conhecimentos de informática limita, ainda mais, a inserção profissional dos invisuais.
O projecto foi financiado em 2004 com 50 mil euros pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, no âmbito do Programa Inclusão Digital e pelo POS – Conhecimento.
